A cobertura do banco de reservas no Estádio Antônio Cruz depõe sobre o abandono do campo; a academia se encontra quase toda deteriorada, enquanto algumas salas servem de entulho para computadores. Na arquibancada, o proprietário Vanor Cruz mostra onde ficavam as cabines de rádio Fotos: Lucas Moura
Em 1996, com recursos próprios, o médico e desportista Vanor Cruz ergueu o que seria o maior CT (Centro de Treinamento) dos clubes locais, com um estádio e quatro campos de futebol. O empreendimento, tido como orgulho para o futebol local, era a casa do Uniclinic, que, com suas cores amarela e lilás, levava o nome do hospital homônimo. O CT recebeu o nome de Estádio Antonio Cruz, uma homenagem ao pai de Cruz.
Dezoito anos depois, o terreno está praticamente todo deteriorado e uma parte dele já foi vendido. “Foi como se um ‘tsunami’ tivesse passado por aqui, devastando o que construí com muito amor e sacrifício”, lamentou Vanor, ao receber o estádio de volta do arrendamento que fez ao investidor Getúlio Tadeu.
Após passar três anos sem por os pés no CT, Cruz está recebendo o espaço e o estádio de volta em condições que ele afirma não ter imaginado receber: o estádio está com a energia cortada, interditado e com as dependências em petição de miséria, segundo afirmação do próprio Cruz.
Portas roubadas
As marcas da decadência do patrimônio são evidentes para quem chega ao CT, na Lagoa Redonda. As colunas da arquibancadas com marcas de erosão; os bancos de suplentes estão com as cobertas danificadas. As cadeiras estão quebradas e o campo principal está coberto de mato, o qual já avançou para o piso do banco de reservas.
O Uniclinic havia instituído o projeto Casa do Atleta. A proposta era criar um local para abrigar os jogadores que viriam de fora. Acontece que o descuido com o espaço físico fez com que ladrões invadissem as acomodações, levanto tudo o que havia, inclusive as portas.
Os times que passaram pelas instalações pertencentes à Águia da Precabura, mascote do clube, puderam desfrutar da então moderna academia, que funcionou bem até meados dos anos 2000. Hoje, o local encontra-se mal cuidado, tendo os aparelhos enferrujados, com defeito, e o piso está se arrancando.
Os vestiários, por sua vez, estão cheios de água. Isso sem falar nas salas do escritório, que estão entulhadas de cadeiras de escritório, máquinas de lavar industrial, ar-condicionados, etc.
O CT tinha cerca de 10 hectares. Só que Cruz já vendeu seis deles, inclusive a chamada Academia da Bola, espaço repleto de campos soçaite.
A compra de parte do terreno foi feita pelo Recreio Clube de Campo, que saiu do seu antigo endereço, ocupando a Academia, uma vez que a empresa Casas Freitas assumiu o terreno do antigo Recreio.
Hoje na 3ªDivisão, a Águia já brilhou. Nascida em 1996, ganhou o campeonato Sub-17. Em 1998, o time profissional ganhou a 2ªDivisão. Em 1999, foi campeã sub-18. Em 2002, caiu para a Série B, mas voltou à elite do futebol local no ano seguinte.
CT deverá ser administrado por Paulo Wagner
O dono do Uniclinic, Vanor Cruz, deixa bem claro que não está voltando ao futebol, mas que apenas irá recuperar o Estádio Antonio Cruz, em honra do nome de seu pai. Quando tudo estiver recuperado, ele passará o comando para o presidente do Horizonte, Paulo Wagner.
Cruz afirma que perdeu muito do gosto pelo futebol após a morte de seu filho, também médico, Davi Cruz, em 2010. Perdeu também o interesse por qualquer coisa que envolva festa ou alegria. De acordo com ele, a situação favoreceu a degradação de seu antigo sonho.
Versão de Getúlio
O investidor Getúlio Tadeu apresentou, ontem, a sua versão sobre a deterioração do CT Uniclinic. Ele arrendou o CT há três anos e meio, mas explicou porque não fez as reformas. “Como eu iria reformar uma estrutura já envelhecida? Ainda gastei no clube R$ 1,3 milhão, sem receita. Paguei R$ 700 pela conta de luz… Se não ligaram, não sei o que aconteceu. Mas paguei”.
Getúlio ainda continua com a escolinha de futebol até agosto de 2015, utilizando dois campos dos três que existem no CT. O trabalho das escolinhas comandadas por Getúlio e sua equipe já rende frutos. O time é o campeão cearense Sub-13, superando os grandes da Capital.
Ivan Bezerra
Repórter
Diário do Nordeste – Jogada – 15.03.2014