SÃO PAULO – Após três altas consecutivas, o Ibovespa opera em terreno negativo nesta quinta-feira (31), com os investidores realizando lucros em dia marcado pelas incertezas do cenário político. A imprevisibilidade dos próximos passos do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff atribui pessimismo aos investidores locais. Na BM&F, os juros futuros sobem após recado do Banco Central e o dólar recua de olho na cena externa.
De acordo com Eduardo Roche, gestor da Canepa Asset Management, além de aproveitar para apagar parte dos ganhos recentes no Ibovespa, “os investidores se preocupam com o esfriamento do debate do impeachment da petista”.
Cresce a ideia de que Dilma tem conseguido avançar nas negociações para barrar o impedimento na Câmara dos Deputados. Um dirigente de um dos principais partidos no Congresso avalia que a base governista pode ter 182 votos, segundo a colunista da Folha de S.Paulo, Mônica Bergamo. São necessários 171 votos para impedir o processo na Câmara.
A perspectiva de mudança política tem sido a principal alavanca da bolsa brasileira nas última semana. Na reta final de março, o Ibovespa ainda acumula alta ao redor de 20%, o que representa o maior rali mensal em 16 anos, segundo a Bloomberg News. O fluxo líquido de dinheiro estrangeiro para a bolsa brasileira em março estava acima de R$ 7 bilhões até segunda-feira (28).
Na véspera, a equipe de estratégia do JPMorgan elevou as ações brasileiras para “acima da média” em sua análise para América Latina. “Enquanto o impeachment e a transição de poder não são processos lineares, eles provavelmente são os fatores mais importantes para o desempenho nos próximos dois meses”, diz o banco, em relatório.
Segundo o gestor da Canepa Asset Management, “em dia de agenda fraca, fica ainda mais evidente como o mercado local está refém de Brasília”.
“Até a votação do impeachment, o Ibovespa deve permanecer volátil, até mesmo porque o governo arrastará as negociações com partidos pequenos até lá. Isso atribuirá indefinição ao resultado da votação e incertezas para os investidores”, afirma Roche.
Por volta de 13h01, o Ibovespa tinha queda de 1,71%, aos 50.370 pontos. Entre as ações mais líquidas, as ações de Itaú (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3) e Vale (VALE5) tinham desvalorização de 2,23%, 1,72% e 2,56%, respectivamente.
Câmbio
O dólar opera em forte queda diante do baixo volume de negócios do Banco Central no leilão de swap cambial reverso, que equivale a venda futura de dólares.
O Banco Central aceitou apenas 2,9 mil contratos dos 17 mil ofertados, totalizando US$ 143,5 milhões.
O baixo apetite pela compra de dólares acelerou as perdas da moeda no mercado doméstico, mas a desvalorização do dólar ante o real também segue a tendência da divisa no mercado internacional.
Neste contexto, o dólar à vista recuava 2,49%, cotado a R$ 3,5510. Nas primeiras horas de pregão, a moeda oscilou entre a mínima de R$ 3,5347 e a máxima de R$ 3,6339.
No mercado internacional, o Dollar Index – que mostra a variação da moeda ante uma cesta de seis divisas fortes – tinha queda de 0,29%.
Juros
As taxas de juros futuros operam em alta após o Banco Central sinalizar no Relatório Trimestral de Inflação que não há espaço para afrouxamento da política monetária.
O BC citou incertezas no balanço de riscos, com destaque para a inflação corrente e as expectativas, a indexação da economia brasileira e o processo de recuperação dos resultados fiscais, além das incertezas com a economia mundial.
Neste contexto, o BC afirmou que “reitera que essas condições não permitem trabalhar com a hipótese de flexibilização monetária”.
“O BC foi claro, jogando um balde de água fria no corte de juro no curto prazo”, afirma Pablo Stipanicic Spyer, diretor de operações da Mirae Asset Wealth Management
Paulo Petrassi, chefe de renda fixa da Leme Investimentos, explica que, além de frustrar as expectativas do mercado de corte na Selic no curto prazo, alguns parâmetros considerados pelo BC ainda são “muito otimistas”.
No documento, o Banco Central prevê superávit primário de 0,50% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano e de 1,30% do PIB em 2017. “Ainda tem coisa para piorar, o que traz a informação para o mercado de que talvez não tenha queda nos juros. O mercado está refazendo as contas”
O cenário político também pesa. Parte dos ministros do PMDB resiste em deixar o governo, mesmo após o partido comunicar seu desligamento oficial, e a articulação do ex-presidente Lula nos bastidores para obter votos contra o impeachment na Câmara esfriam as expectativas contra a presidente Dilma Rousseff.
Essa percepção desanima os investidores, que veem como positiva a possibilidade de mudança na Presidência.
Neste contexto, a taxa de juros negociada na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) com vencimento em janeiro de 2017 tinha alta de 13,76%, no fechamento do último pregão, para 13,82%. O contrato do juro para janeiro de 2018 avançava de 13,46% para 13,53% e a taxa para janeiro de 2019 subia de 13,55% para 13,63%.