Retomada
De volta à Globo, o autor João Ximenes Braga trabalha em novos projetos da casa em parceria com Gilberto Braga. Novela e minissérie.
Flávio Ricco com colaboração de José Carlos Nery
São muito boas as notícias sobre a recuperação do Gilberto Braga…
… Se alguém não sabe, ele passou por um procedimento para drenar líquido do cérebro.
Flávio Ricco com colaboração de José Carlos Nery
A teledramaturgia da Globo deu uma reviravolta no caso e encontrou uma saída honrosa para não levar Gilberto Braga (70) e Manoel Carlos (82) pendurarem definitivamente as “chuteiras” das novelas, mesmo sabendo das dificuldades dos dois em conduzir trabalhos mais longos.
Diante disso, avalia-se agora a possibilidade de se aproveitar tanto o Gilberto como o Maneco no horário das 23 horas, destinado a produções mais curtas, a partir de 2017. Existe a chance de um deles escrever a substituta de “Liberdade, Liberdade”.
Conceder aos autores esta possibilidade e trabalhar com textos de curta duração, semelhantes ao formato de minisséries, foi a maneira encontrada para poupá-los da absurda cobrança que rege a faixa das nove, por exemplo.
A ideia é essa, mas tudo ainda dependerá de futuras avaliações e de um necessário “ok” às sinopses apresentadas. Não chega a ser surpresa para ninguém que as últimas novelas de Manoel Carlos e Gilberto Braga não foram de encher os olhos.
Autores respeitados e com diversos sucessos no currículo, os dois, no entanto, tropeçaram com “Em Família” e “Babilônia”, respectivamente. Ambas não corresponderam à expectativa e audiência seguiu o mesmo caminho.
Daí o entendimento de continuar contando com o talento dos dois, em condições que mais se ajustem às suas atuais possibilidades.
Flávio Ricco com colaboração de José Carlos Nery
João Miguel Jr/TV Globo
Gilberto Braga
Dentro da Globo se dá como certo que Manoel Carlos e Gilberto Braga, como autores de novelas, nunca mais. Isto não é assumido publicamente, mas trata-se de algo já acertado.
O entendimento é que os dois, a partir de agora, passem a se dedicar somente as séries. Ambos, inclusive, já estão voltados para este trabalho.
Ao encontro disso, a escala das próximas atrações da Globo na faixa das 21 horas. Os nomes do Maneco e do Gilberto não aparecem mais, pelo menos nos trabalhos definidos até 2018.
Flávio Ricco com colaboração de José Carlos Nery
Após a exibição do último capítulo de “Babilônia”, que aconteceu na noite desta sexta-feira (28), o autor da novela, Gilberto Braga, fez um balanço sobre o que achou da trama.
“O legado que Babilônia deixou foi o de superação. Gostei muito do último capítulo, gostei até da parte da política. Apesar de tudo, saí vitorioso”, disse Gilberto Braga, que se reuniu com o elenco da novela em um churrascaria do Rio para acompanhar a exibição do último capítulo.
O último capítulo de “Babilônia” rendeu 32,2 pontos de audiência à Globo, segundo dados prévios do Ibope. Essa é a pior audiência de um final de novela das nove no último ano. A Record ficou em segundo lugar com 9,1 e o SBT com 8,8 pontos em terceiro no confronto direto. Cada ponto é igual a 67 mil domicílios na Grande São Paulo.
A trama de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes teve a menor média para uma novela do horário nobre (média de 25 pontos). A antecessora “Império” marcou 50 pontos no Rio e 46 em São Paulo no último capítulo, ou seja, “Babilônia” perdeu 18 pontos — equivale ao público da adolescente “Malhação”, que costuma alcançar o mesmo número às 18 horas.
Culpa dos paulistas
No final do mês de maio, ciente de que “Babilônia” estava indo mal no Ibobe (média de 25 pontos), Gilberto Braga conversou abertamente sobre as mudanças no folhetim em entrevista ao jornal “O Globo”. O escritor contou que, após as alterações, a audiência subiu em todos os estados brasileiros, menos na capital paulistana.
“Paulista é esquisito. Um dos meus melhores amigos é o Silvio de Abreu. Ele fez o personagem Jamanta [em ‘Torre de Babel’, de 1998]. Odeio Jamanta e falei: ‘Jamanta de novo?’ [quando ele voltou em ‘Belíssima’, em 2005]. Ele disse: ‘É um fenômeno paulista. Fora de São Paulo ninguém suporta, mas lá é um sucesso. Por isso que eu botei’. Acho que o problema está aí. Não sei escrever para quem gosta de Jamanta. Meu universo é antiJamanta”, afirmou na época.
Ana Cora Lima
Do UOL, no Rio
28/08/2015
Para Ricardo Linhares, coautor de Babilônia, a novela das nove que se encerra nesta sexta-feira (28) foi vítima de um “julgamento moral” em uma “TV aberta defasada”. Pior audiência da faixa das 21h, a produção não foi recusada por falta de qualidade ou por valores artísticos, mas por ousar tocar em temas espinhosos e relevantes, como corrupção, religião e homossexualidade. “É importante não confundir audiência com qualidade. Senão, Chaves seria uma obra-prima. Nós tivemos um julgamento moral, como se o tema pudesse abalar os valores tradicionais familiares”, diz.
Em entrevista exclusiva ao Notícias da TV, por e-mail, Linhares toca em um ponto nevrálgico. O telespectador brasileiro é conservador, não quer ver duas senhoras se beijando na TV com a netinha ao lado. E a televisão não conseguiria mostrar uma trama como a da série norte-americana Empire, estrelada por negros que produzem hip hop e que trata com naturalidade dois homens na cama. “A TV aberta brasileira está defasada”, conclui.
Notícias da TV – Qual o balanço que você faz de Babilônia? O público te decepcionou?
Ricardo Linhares – Tratamos de assuntos relevantes como corrupção, impunidade, mistura de política e religião, racismo, homossexualidade, intolerância, novas formações familiares, conflitos sociais. Foi uma trama ousada e anticonvencional. Uma novela forte e marcante, líder de audiência no país. Tivemos um público fiel e entusiasmado e uma excelente repercussão nas redes sociais. Desde a estreia, as manifestações positivas sempre foram maiores do que as negativas, embora as críticas façam mais barulho do que os elogios.
Qual teria sido o erro capital da novela para o público que mudou de canal? Foi no primeiro capítulo, já que a audiência foi boa e nunca mais se igualou?
O público que mudou de canal foi, percentualmente, pequeno. Por exemplo: aproximadamente 2% foi para uma emissora, 2% foi para outra. Nos dois grupos de discussão realizados, e que eu acompanhei, a novela foi reconhecida como boa e forte.
Entre as espectadoras que diziam não acompanhá-la, não havia rejeição artística e, sim, aos temas abordados. Ninguém dizia que a novela era ruim, mal escrita ou mal realizada. Diziam que a vida estava muito difícil e que preferiam uma diversão mais leve. Esta parcela do público dizia não querer assistir aos mesmos assuntos tratados pelo noticiário (a sinopse foi escrita em 2013; fomos premonitórios, na época não havia Petrolão nem Lava-Jato), tampouco ver o beijo gay de Teresa [Fernanda Montenegro] e Estela [Nathalia Timberg], pois eles não poderiam assistir à novela com filhos pequenos, e consideravam mal exemplo para os jovens a trama que mostrava o cafetão seduzindo a ingênua moça de família classe média.
A temática afastou uma parcela pequena da audiência, mas que fez a diferença para a novela não atingisse os mesmos índices da antecessora.
Na sua opinião, por que Babilônia não foi um grande sucesso (vamos combinar que também não foi um fracasso…)?
Como alguém pode chamar de fracasso o programa mais assistido da televisão brasileira atualmente? Perdemos umas cinco ou seis vezes na época da estreia de I Love Paraisópolis, que é uma ótima novela. Já aconteceu dezenas de vezes um capítulo ou outro de uma novela das 19h ter mais audiência que a novela das 21h. Não há nada de inédito nisso.
Após essa oscilação, nunca mais perdemos a liderança. Mas manchetes negativas chamam mais a atenção. A repercussão positiva do público e nas redes sociais sempre foi muito maior do que comentários negativos.
No conjunto da obra, Babilônia foi o programa mais assistido da TV no período. Nossos números seriam considerados espetaculares em qualquer país civilizado, onde há pulverização da audiência. No Brasil, ainda persiste o hábito de uma novela atingir o público de 8 a 80 anos, de todas as camadas socioculturais. Acho que isso será cada vez mais difícil. Na minha opinião, a segmentação é a nova realidade da TV. Crianças assistem às novelas infantis; para quem procura escapismo há tramas fantasiosas; quem curte documentários e programas jornalísticos os encontra em canais temáticos. A segmentação acontece em todo o mundo. É normal e saudável.
Você se arrepende de ter atendido aos desejos manifestados por telespectadoras nos grupos de discussão? Babilônia seria muito diferente se não fossem essas mudanças? Hoje, olhando em perspectiva, você acha que a audiência poderia ter sido melhor sem as alterações?
Todo programa de TV pertence ao produtor. A novela não é do autor da sinopse. É da emissora. Da mesma forma, no cinema comercial a palavra final é do produtor do filme, não é do diretor ou do roteirista. O novelista não é dono da obra, embora muitos não assumam isso publicamente, talvez por questão de vaidade.
Se houvesse a figura do showrunner [principal produtor e/ou criador e/ou roteirista de uma série] na TV brasileira, esse quadro poderia ser diferente. Mas não há. E, mesmo que houvesse num seriado ou minissérie, seria muito difícil numa telenovela pelas dimensões do programa. Na novela das 21h, são 35 páginas por capítulo, de seis a oito meses no ar. É uma obra aberta e coletiva sujeita a todo o tipo de influência. Em Babilônia, nós cumprimos todas as determinações do produtor.
.Jussie Smollett e Rafael de La Fuente se beijam na estreia de Empire (Reprodução/Fox)
Você diria que os autores de Babilônia tentaram inovar, mas que o público de telenovela continua muito conservador, ainda quer mocinha e mocinho puros?
Há um seriado americano badalado chamado Empire. Faz sucesso nos Estados Unidos, mas seus números seriam considerados um fiasco no Brasil. Lá, vai ao ar na Fox, TV aberta. No primeiro episódio, há um beijo gay, tratado com naturalidade. No segundo episódio, há cena de cama entre dois homens.
Em How To Get Away With Murder, também exibido na TV aberta americana, um dos protagonistas é gay, e não faltam cenas de beijo e transa com seus parceiros. Aliás, a protagonista é negra.
O elenco de Empire é majoritariamente negro, e o pano de fundo da trama é o hip hop. Será que faria sucesso no horário nobre da TV aberta brasileira? Já imaginou um programa semelhante só com atores negros e falando de funk às 21h?
A TV aberta brasileira está defasada. O público brasileiro é conservador. Não é por isso que devemos ter medo de ousar. Eu acho que a telenovela deve entreter, mas a história deve também propor a discussão de temas importantes, refletindo o momento que a sociedade vive. A temática forte misturando corrupção, religiosidade, hipocrisia, gays, prostituição e racismo incomodou uma parcela pequena mas ruidosa do público. Porém, foi aprovada pela maioria.
Curtir ou não um folhetim é uma coisa subjetiva, que depende do gosto de cada um. Mas é importante não confundir audiência com qualidade. Senão, Chaves seria uma obra-prima. Nós tivemos um julgamento moral, como se o tema pudesse abalar os valores tradicionais familiares, não tivemos rejeição artística. Em meio a tantas polêmicas, Babilônia foi marcante. Mas, no frigir dos ovos, uma novela é apenas uma novela.
Notícias Da TV
Logo depois de “Babilônia”, Ricardo Linhares vai supervisionar o primeiro voo solo da autora Maria Helena Nascimento no horário das 19h da Globo. E a parceria com Gilberto Braga e João Ximenes Braga continua? Linhares responde que sim. “Gilberto e João são meus companheiros de trabalho e amigos para o resto da vida”, declarou. Mas, antes de um novo folhetim com eles, sua prioridade será essa supervisão.
Flávio Ricco com colaboração de José Carlos Nery
Autor de Babilônia, Gilberto Braga diz que não vai abandonar a novela das nove da Globo, pior audiência da história do horário. Nem vai se desculpar com os paulistas por acusá-los, injustamente, pelo fracasso da trama, como fez em entrevista ao jornal O Globo publicada no último domingo. “Não me arrependo de nada, a repercussão da entrevista foi excelente”, disse ao Notícias da TV por e-mail. Durante todo o dia de ontem, circularam rumores de que o autor deixaria a novela, para não passar pela humilhação de ser afastado. “Não é verdade”, rebate.
Na entrevista, Braga afirmou que as mudanças feitas em Babilônia deram certo em todo o país, menos em São Paulo. Na verdade, os números do Ibope mostram que o Brasil todo rejeita a novela. A média nacional até o último sábado era de 26,0 pontos, apenas 0,6 acima de São Paulo (25,4). Em capitais como Florianópolis, onde as tramas das nove sempre estão acima dos 40 pontos, caiu de 36,6 em março para 32,1 em maio. Em Manaus, registra apenas 18,4.
Gilberto Braga responsabilizou os paulistas pelas mudanças em Babilônia. A trama sofreu corte de beijos entre homossexuais e alterou perfis de personagens: Beatriz (Gloria Pires) deixou de ser uma “devoradora” de homens; Alice (Sophie Charlotte) não chegou a se prostituir; Murilo (Bruno Gagliasso) desistiu de se tornar cafetão e está perdido como produtor de eventos.
Na entrevista, Braga chamou os paulistas de “esquisitos” por gostarem de Jamanta, personagem abobalhado que Silvio de Abreu criou em Torre de Babel (1998) e relançou em Belíssima (2005). “Acho que o problema está aí. Não sei escrever para quem gosta de Jamanta. Meu universo é anti-Jamanta”, disse.
O autor afirma que não se arrepende da declaração. Com bom humor e ironia, diz que só recebeu manifestações de “paulistano que também não gosta de Jamanta”.
Dia da queda
A entrevista causou enorme mal-estar em vários setores da Globo. No Projac, a central de estúdios da emissora, avalia-se que Braga foi injusto ao dizer que a sinopse de sua novela circulou durante um ano pela emissora e que ninguém o alertou de que não deveria ter mocinha prostituta nem galã cafetão. A afirmação é negada pela existência de um extenso relatório analisando a trama e propondo mudanças para evitar rejeições.
Apesar do desconforto, nenhum executivo graduado da Globo chegou a propor o afastamento de Braga, ao contrário do que se especulou nos bastidores. Mesmo os insatisfeitos reconhecem o valor do autor e seu direito de dizer o que pensa, principalmente sobre sua novela. Homem forte da dramaturgia diária da Globo, Silvio de Abreu saiu em defesa do amigo.
“Babilônia” vai até o fim, cumprindo o que foi programado para ela e ponto. A dúvida, nesta altura na Globo, é se o Gilberto Braga continuará com Ricardo Linhares e João Ximenes Braga na autoria da novela ou não.
Atenta a tudo…