A Rede Globo, maior emissora de televisão do Brasil, da América Latina e uma das cinco maiores do mundo, comemora no próximo dia 26 seu aniversário de 50 anos.
Líder de audiência incontestável, em todos os horários, faixas, praças e nos principais indicadores de interesse do mercado comercial, a emissora foi fundada por Roberto Marinho – falecido em 2003 -, e faz parte do cotidiano de mais de 150 milhões de brasileiros todos dos dias através de suas novelas, jornalísticos, atrações esportivas ou de entretenimento.
Para comemorar esta marca, o NaTelinha prepara uma série de reportagens que irão retomar os principais momentos da Globo ao longo destes 50 anos. No decorrer do mês de abril, cada semana terá uma abordagem: crescimento como um todo, novelas, jornais, esportes e entretenimento.
Ontem, você viu como surgiu a emissora e seu crescimento até a década de 80. Agora, você verá como foram os anos 90, 2000 e 2010. Confira:
Anos 90
Os anos 90 começaram de forma bastante tumultuada para a Globo. Além de ainda estar presente a lembrança do debate eleitoral de 1989, afinal Collor – o acusado de favorecimento – havia vencido o pleito, o avanço da concorrência em faixas consideradas prioritárias tornou o início da década amargo. Manchete e SBT foram as responsáveis por tais baques.
A Manchete começou a exibir nos anos 90 a novela “Pantanal”, de autoria de Benedito Ruy Barbosa, seu ex-contratado, com direção de Jayme Monjardim, que também havia mudado de emissora. Repleta de ex-globais no elenco, como Claudio Marzo, Angela Leal, Marcos Palmeira, José de Abreu, entre outros, o folhetim tinha uma proposta diferente da qual a Globo vinha apostando.

“Pantanal” rapidamente se tornou um sucesso, chegando a alcançar a liderança em diversos momentos. A Globo recorreu a estratégias como o esticamento da novela das oito como forma de atenuar a derrota. A liderança de “Pantanal” teve efeitos ainda mais brutais não só por conta de sua produção ter sido tocada por nomes que eram contratados da Globo anos atrás, mas sim pelo fato de a sinopse ter sido apresentada e rejeitada pelo canal. Benedito e Jayme, na mudança de emissora, levaram a ideia para a Manchete.
Apesar do susto, a Manchete jamais veio a produzir outra novela como “Pantanal”. Houve produções de sucesso, como “Xica da Silva” ou até mesmo “Mandacaru”, mas nenhuma com o mesmo porte e superlativos. Ainda na primeira metade dos anos 90 a Globo conseguiu trazer de volta Benedito e Jayme – mais do que nunca com status de estrelas.
Em 1991, “Pantanal” já havia chegado ao fim, mas logo no mês de maio o SBT começou a incomodar a Globo no horário nobre. Em vez de novelas milionárias, com externas e belas paisagens – como a trama da Manchete -, ou gravações na Europa, como a própria Globo fazia com seus folhetins, a emissora de Silvio Santos passou a exibir “Carrossel”, um enlatado produzido pela mexicana Televisa, cujos padrões de qualidade sempre foram questionados, dublado, com elenco desconhecido e gravações quase que concentradas em estúdio.
“Carrossel” começou a tirar pontos de “O Dono do Mundo”, novela das oito da Globo e que contava com os melhores integrantes de seu time de dramaturgia. O folhetim era assinado por Gilberto Braga, com direção de Dennis Carvalho, e atores renomados como Malu Mader, Antonio Fagundes, Glória Pires e Fernanda Montenegro em seu casting. Curiosamente, Gilberto, Dennis, Glória e Fernanda Montenegro mais uma vez disputam com “Carrossel”: “Babilônia”, atual novela das nove da Globo, vai ao ar no mesmo horário que a reprise do remake feito pelo SBT em 2012. No entanto, os parâmetros são outros e apesar do problema de audiência ter se repetido, não há comparação com o contexto dos anos 90.

Em 1995, a Globo teve um grande marco em sua história. Neste ano foi inaugurado o Projac – o Projeto Jacarepaguá, ou a Central Globo de Produção – CGP. O complexo de estúdios é um dos maiores e mais modernos do mundo e foi erguido na Zona Oeste do Rio de Janeiro. São mais de 1,5 milhão de metros quadrados de área, a qual inclui também mata preservada, e mais de 400 mil metros quadrados de área construída. São dez estúdios operantes, os quais são gravadas as novelas, séries e minisséries, além de um espaço à parte onde o “Mais Você” é produzido.
O Projac foi inaugurado para suprir a necessidade da Globo de espaço. Os estúdios do Jardim Botânico não conseguiam mais atender à crescente demanda de produção. Durante alguns anos, a emissora recorreu ao aluguel de estúdios.
Ao longo dos anos 90, a Globo continuou se especializando em coberturas esportivas, como Copa e Olimpíadas. O entretenimento ganhava ainda mais força com a chegada de Fausto Silva, que em 1989 trocou a Band pela Globo. A segunda metade da década foi marcada por uma situação mais confortável: a Manchete, perdida em dívidas, deixava de se posicionar como uma ameaça. O canal foi extinto em 1999 mas desde muito antes deixou de incomodar. A Record e o SBT incomodaram o horário nobre com “Ratinho” e “Márcia” – a chamada era dos telebarracos. De fato não era agradável para a Globo ter a liderança da faixa entre 20h e 22h vulnerável, porém ambos produtos tinham baixa aderência comercial e eram vistos como passageiros – como de fato foram. A repetição de um sucesso como “Pantanal” criado pela dramaturgia da Record ou do SBT teria sido muito mais perigosa para a Globo.
Na mesma década, o canal carioca fez uma das maiores movimentações de toda sua história ao levar Ana Maria Braga, então na Record, Serginho Groisman, Angélica e Jô Soares, do SBT, e Luciano Huck, da Band, em um intervalo inferior a de quatro anos. Os cinco desfalques foram bastante amargos para as respectivas emissoras e mostraram que a Globo, mesmo de uma liderança inabalável, estava de olho em seus concorrentes e no seu próprio projeto de TV para os anos seguintes.

Curiosamente, a maior parte destes contratos foi feita em bases salariais inferiores aos que tais artistas recebiam em suas respectivas casas. A possibilidade de estar na Globo, da vitrine que o canal contava e da possibilidade de fama – e dos frutos financeiros que ela poderia causar – motivou a mudança de emissora ainda que por menos dinheiro.
Também no fim dos anos 90, mais precisamente em 1999, a Globo criou a Globo Internacional, levando seu conteúdo para o mundo. Ainda que suas novelas e séries fossem exportadas, a Globo Internacional tinha como objetivo levar produção totalmente nacional aos brasileiros que viviam fora do país. Tal comunidade já não era pequena naquela época. A lacuna foi percebida pelo canal, que tem milhares de assinantes por todo o mundo.
Anos 2000
A chegada de Ana Maria, Serginho, Angélica, Jô e Huck repaginou a Globo. Eles se uniram a artistas como Xuxa e Faustão, há anos na casa e conhecidos nacionalmente. No entanto, salvo Serginho, que passou a comandar o “Altas Horas” nas madrugadas de sábado, e Jô, no “Programa do Jô” nos fins de noite, o começo dos anos 2000 não foi fácil.
Ana Maria Braga estreou na Globo em outubro de 1999 com o “Mais Você”, uma versão mais refinada, curta e com o suporte da Globo do “Note e Anote”, que comandou durante alguns anos na Record. Ana Maria demorou para se encontrar e para deslanchar. Após o efeito estreia, as derrotas para “Chaves”, no SBT, foram frequentes. Ela então mudou para o fim das manhãs, onde também passou a perder para o “Bom Dia & Cia” e “Eliana”, à época na Record. Ana Maria só veio a se estabilizar quando passou por mais uma mudança e veio a ocupar a faixa das 8h. Ainda assim, a apresentadora foi ameaçada diversas vezes pelo “Fala Brasil”, da Record.
Angélica, desde 96 na Globo, também teve problemas de audiência. O “Angel Mix”, mesmo com seus investimentos, perdia com frequência para os desenhos do SBT. Em 2000, a Globo deu a cartada final para Angélica com “Bambuluá”: um infantil com cidade cenográfica, história similar a de uma novela e protagonizada por crianças. A produção ficou no ar por pouco mais de um ano e não resolveu o problema de liderança do canal.
Luciano Huck, à frente do “Caldeirão do Huck” desde o começo de 2000, foi outro que demorou para emplacar. Sua estreia ocorreu na mesma época em que Raul Gil estava em seu auge na Record. O “Programa Raul Gil” tinha uma liderança inquestionável. No entanto, com o passar do tempo, a Globo retomou a liderança aos sábados e Raul, de um primeiro lugar absoluto, passou a se contentar com a vice-liderança até deixar a Record, em 2005.
Xuxa e Faustão, mesmo já estando na Globo, também não estavam em suas melhores performances. O “Xuxa Park”, voltado para as crianças, saiu do ar em 2001 após um incêndio no Projac. O “Planeta Xuxa”, para os adultos, começou a perder fôlego na virada do ano 2000 diante do crescimento de Gugu Liberato com o “Domingo Legal”. O auditório do SBT também incomodou durante várias semanas o “Domingão do Faustão”, tirando-o da liderança e assumindo o primeiro lugar. A situação era tão crítica que em uma ação inédita a Globo chegou a juntar os logotipos de Xuxa e Faustão em uma edição ao vivo em que ambos estavam no ar.
A Globo tirou o “Planeta Xuxa” do ar em 2002. Faustão continuou no embate e gradativamente voltou à liderança após mudanças profundas. Houve um tempo, inclusive, que o jornalismo da Globo teve forte influência na atração de Fausto Silva. Tal situação, no entanto, não se manteve por muito tempo. O apresentador passou a apostar no que a Globo tinha de melhor: sua infra-estrutura e o elenco de suas novelas, líderes de audiência e que faziam parte do cotidiano do brasileiro.
Como se não bastasse a demora para emplacar os novos contratados e a vice-liderança nas tardes de domingo por diversas ocasiões, a Globo se viu com um problema ainda maior: a “Casa dos Artistas”. Silvio Santos juntou celebridades em uma mansão, ao lado da sua, no luxuoso bairro do Morumbi, em São Paulo, em um formato muito similar ao do “Big Brother Brasil” – adquirido pela Globo. Além de desbancar o “Fantástico”, o confinamento por tabela também incomodou a novela das nove “O Clone”.
A Globo moveu um processo contra o SBT, que chegou a tirar o reality do ar durante alguns dias – ainda que sua produção tivesse sido mantida. A primeira das quatro edições da “Casa dos Artistas” foi vencida por Bárbara Paz, hoje atriz da Globo. O reality foi um grande fenômeno tanto de audiência quanto comercial e de repercussão. Empolgado, o SBT lançou a segunda temporada menos de dois meses após o término da primeira – e a terceira veio num período ainda menor. Os índices de audiência caíram e mesmo com o formato tendo descansado por um período maior – entre a terceira e a quarta temporada – a “Casa” deixou de incomodar.
Na dramaturgia, os anos 2000 foram marcados por grandes sucessos, como “Celebridade”, “Senhora do Destino”, “Mulheres Apaixonadas” e “Belíssima”. Correndo por fora da faixa das 21h, outros fenômenos se fizeram, como “Alma Gêmea” na faixa das 18h e “Da Cor do Pecado” às 19h.
Em 2005, a Globo se viu com mais um problema: o crescimento da Record. Após o sucesso do remake de “A Escrava Isaura”, lançado em 2004, a emissora de Edir Macedo inaugurou um núcleo de novelas no Rio de Janeiro. Vários profissionais foram tirados da emissora carioca a peso de ouro. Liderando o time, veio o diretor Alexandre Avancini – filho do renomado e já falecido Walter Avancini. A Record, de fato, não havia conseguido tirar nenhum nome de primeiro time da Globo, mas apostou nos que tinham sede de crescer.
Tiago Santiago, então colaborador de novelas por praticamente duas décadas, trocou de canal e teve a possibilidade de ser autor titular. Marcílio Moraes e Lauro César Muniz, ex-Globo, também mudaram de canal, embora já não tivessem mais o mesmo prestígio dos anos 80 e 90. Atores como Marcelo Serrado, Lavínia Vlasak, Paloma Duarte e Gabriel Braga Nunes foram as estrelas desta nova era.

A Globo foi obrigada a rever suas estratégias. Uma novela inovadora como “Bang Bang”, com ares de faroeste americano, perdia pontos para a urbana, carioca e clichê “Prova de Amor”. “Vidas Opostas”, pioneira em promover a favela de coadjuvante para protagonista, incomodou a faixa de shows e até mesmo a inovadora “Os Mutantes” chegou a atrapalhar “A Favorita”, fato que acendeu o sinal amarelo, afinal o incômodo às 19h ou às 22h – quando não havia novela na Globo – era menos perigoso que um incômodo às 21h, diante de seu principal produto.
Ainda nos anos 2000, a Globo perdeu vários jornalistas para a Record – além de Ana Paula Padrão para o SBT -. Campeonatos esportivos também passaram a ser inflacionados ou até mesmo perdidos para a concorrente. A Globo, por exemplo, não pôde exibir as Olimpíadas de 2012, afinal os direitos haviam sido adquiridos com exclusividade pela Record.
Em meio a esta rivalidade, o ano de 2007 foi marcado pelo lançamento da TV digital no Brasil. O país passou a contar com um padrão próprio e a Globo começou a apostar em novelas em alta definição, dando maior qualidade de imagem ao telespectador e apostando na nova tecnologia para alavancar suas vendas no exterior. “Duas Caras”, de Aguinaldo Silva, foi a primeira novela do canal exibida neste padrão e a segunda da história do Brasil – a primeira foi “Dance Dance Dance”, da Band, por uma diferença de aproximadamente 40 minutos.
Apesar do avanço da concorrente, a Globo se manteve na liderança isolada. Nenhum dos problemas que enfrentava com a Record era inédito. A Manchete já havia desafiado a Globo na dramaturgia, nos esportes e no jornalismo. O fim dos anos 2000 mostraram uma Record enfraquecida: as novelas já não tinham o mesmo apelo.
Vale lembrar que no fim dos anos 2000 a Globo conquistou o Emmy de melhor novela com “Caminho das Índias”, de Glória Perez. A trama, junto com “Da Cor do Pecado”, foi um dos maiores sucessos de exportação na história da emissora.
Anos 2010
A segunda década dos anos 2000 vem sendo uma das mais desafiadoras da história da Globo. Ainda que continue tendo concorrentes, as quais em diversos momentos desafiam sua liderança, a emissora passa a lidar com um rival desconhecido: as novas mídias.

Com o aumento da renda e das concorrentes, a TV por assinatura deixou de ser um artigo de luxo e passou a se tornar acessível às classes mais baixas. A internet vem se consolidando cada vez mais e graças a plataformas como o YouTube horários sagrados como o da novela ou do jornal deixam de ser – afinal tudo pode ser visto on-demand: a hora que o telespectador quiser e na plataforma que quiser.
A Globo passou a investir cada vez mais no conceito de segunda tela. A interação com os telespectadores começou a ter uma agilidade jamais antes vista. A programação agora pode ser comentada por todo o país através das redes sociais. Ao mesmo tempo que a grade perdesse sentido, era necessário investir para que o consumidor, ao migrar da TV para a internet, continuasse consumindo da produtos da própria Globo e não de plataformas como o Google, detentor do YouTube, por exemplo.
A mudança do Brasil, como um todo, também passou a ser alvo de estudos internos e produtos foram criados pensando no novo telespectador. Dois dos maiores sucessos desta década são frutos dessa nova perspectiva. “Cheias de Charme” inovou ao abordar o universo das empregadas domésticas, que antes se limitavam a papéis de figuração, e também permitiu que o telespectador transitasse tanto pela TV quanto pela internet, através da exibição de clipes ou de outras novidades.
Já “Avenida Brasil” inverteu a ordem das novelas: o subúrbio passou a ser o principal cenário enquanto a Zona Sul do Rio de Janeiro foi reduzida a um dos núcleos. O resultado foi uma novela de altíssimos índices de audiência e repercussão, com faturamento de mais de US$ 1 bilhão e ostentando o título de trama mais exportada da história da Globo.
Ainda na dramaturgia, os últimos cinco anos foram marcados por várias mudanças. Autores consagrados passaram a dividir – ou até mesmo a ceder espaço – para os mais novos. Antonio Calmon, Carlos Lombardi e Manoel Carlos, por exemplo, já não detêm do mesmo poder de antes. Calmon não emplaca uma novela há seis anos – a última foi “Três Irmãs”. Carlos Lombardi deixou a Globo em 2012 após ter “Pé na Jaca”, de 2007, como sua última novela – e migrou para a Record. Já Manoel Carlos, com idade avançada, não empolgou com “Em Família”.
Nesta mesma proporção, autores novatos como Elizabeth Jhin, Licia Manzo, Filipe Miguez, Izabel de Oliveira, João Ximens Braga, Daniel Ortiz, Claudia Lage, Rosana Svartman, Paulo Halm e Maurício Gyboski ganham espaço e produções solo.
Um dos maiores marcos da Globo desta primeira metade da década foi a Copa do Mundo de 2014. Embora todas as Copas sejam extremamente importantes para o canal, o fato desta ter ocorrido no Brasil exigiu uma operação ainda maior e mais investimentos, principalmente fora do eixo Rio-São Paulo. O evento esportivo se une ao amadurecimento da TV em alta definição, hoje presente nas maiores cidades do Brasil, e do avanço das plataformas digitais como principais acontecimentos dos últimos cinco anos.

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