Desde que a Record começou uma nova fase na dramaturgia, em 2004, com “A Escrava Isaura” e sua produção milionária na época, era certo de que a emissora não desanimaria, embora os resultados não tivessem tardado em vir, apesar de alguns tropeços de lá pra cá. Um grande investimento no Rio de Janeiro com a aquisição do RecNov é prova disso.
Novelas que foram capazes de incomodar a Globo, novela das 19h, “Jornal Nacional”, linha de shows e até mesmo cutucar os folhetins tradicionais das 21h apareceram. Mas nenhum, absolutamente nenhum, chegou perto de uma estreia de “Os Dez Mandamentos”.
Não estou falando de números de Ibope. Com “Os Dez Mandamentos”, a Record conseguiu atingir um patamar invejável e altamente admirável frente a qualquer outra emissora no Brasil, tamanho esmero e cuidado nos cenários contando a história de Moisés enquanto cumpre missão dada por Deus, que é salvar o seu povo que é feito de escravo pelo faraó Seti I. Não lembra em nada os “defeitos especiais” da novela “Os Mutantes” (que também foi uma grande promessa), onde até o Chapolin levitando era mais convincente.
É aí que começam os problemas: os nomes dos personagens tais como Apuki, Aoliabe, Gahji, Zelofeade e outras dezenas que o telespectador não consegue guardar ou identificar com facilidade. São nomes poucos populares até por conta da história se passar numa outra realidade, num tempo incomparável com o que vivemos por motivos óbvios. Mas é um fator que dificulta a compreensão de quem assiste a assimilar ou se ver no que ali é contado.
Fotografia impecável, direção irrefutável, figurino cuidadoso, paisagens deslumbrantes e tudo no que tange a aspectos técnicos minimamente calculados, estudados e detalhados. Não há uma vírgula a se questionar tecnicamente.
No que diz respeito ao idioma, exageraram língua falada no Egito antigo. Evidentemente, não seria egípcio, mas recorreram a um português moderno exacerbado e palavras como “canalha” e até “espelunca” foram usadas de maneira natural, como se estivessem em uma roda de bar numa cidade brasileira qualquer.
No entanto, apesar do texto ter palavras tão contemporâneas, em nada apaga a dimensão desta produção. Alexandre Avancini continua dirigindo com uma competência ímpar, conduzindo o primeiro capítulo num tom bastante acertado, aliado a atuações bastante convencedoras, como a da atriz Samara Felippo no papel de Joquebede.
A Record já provou ter know-how para produzir minisséries bíblicas e ao anunciar uma novela do gênero, surpreendeu pela audácia e inovação, já que tudo isso sairia muito caro. Cada capítulo de “Os Dez Mandamentos” está estimado em R$ 700 mil. A receita deu certo num outro formato, mas nada impede o êxito desta produção sendo exibida diariamente com 150 capítulos.
Os caminhos estão abertos justamente pra isso. Com uma “Babilônia” a principio rejeitada e um “JN” combalido já que é diretamente afetado por seu desempenho, é a chance da Record engatar um sucesso no horário, tirando público da Globo. Fato um pouco mais difícil de se fazer do SBT, até porque “Chiquititas” é infantil e mira outro tipo de público.
Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há dez anos e assina a coluna Enfoque NT há quatro, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br | Twitter e Instagram: @tforatto
Chegou ao fim nesta sexta-feira (13) a novela “Império”, de Aguinaldo Silva, repleto de expectativa em torno da morte do herói da história, protagonizado por Alexandre Nero, o popular Comendador José Alfredo.
Com um capítulo de duas horas e repleto de ódio, sentimento de vingança, o folhetim cumpriu sua missão: a de fazer o telespectador voltar a ligar o televisor depois de “Em Família”. “Império” conseguiu juntar os cacos deixados pela última obra de Manoel Carlos. A audiência cresceu 10% no horário e vai entregar um pouco mais alto para “Babilônia”.
O desfecho de “Império” esteve tão sombrio que parecia que não era Aguinaldo Silva como autor. Soube se reinventar e escrever um último capítulo de novela digno no sentido de fazer o público esperar por aquilo. Conseguiu criar uma atmosfera de ansiosos por um fim como há algum tempo não se via.
Um ponto bastante chamativo foi a maneira com que fizeram merchandising da Coca-Cola. Geralmente, propaganda em meio às novelas é sem nexo, jogando a marca para o telespectador. Desta vez foi diferente e inteligente. Inusitado. Fica a lição para que isso continue evoluindo no Brasil e deixe de ser motivo de vergonha alheia.
Com uma fotografia irrefutável e direção competente como sempre lhe é peculiar, no caso do profissional Rogério Gomes, a novela teve um último capítulo recheado de momentos similares às missões mais alucinantes do game “GTA”, de séries como “Breaking Bad” e filmes de ação de Hollywood. Não ficou devendo.
Atuação impagável de Othon Bastos interpretando Silviano, quando seu herdeiro, Maurílio (Carmo Dalla Vecchia), foi morto por José Alfredo. A câmera girando posicionada na expressão facial do mentor intelectual de um plano contra o império do Comendador foi simplesmente épica e entrou para o hall das histórias da televisão brasileira.
O grande desfecho
Antológico: José Pedro (Caio Blat) e José Alfredo frente a frente após Silviano tentar uma de esperto pra cima de Josué (Roberto Birindelli) e tomar um par de tiros. Cena eletrizante, paralisante que não vemos num produto dramatúrgico há anos. Um balcão abandonado com todo um contexto por trás como pano de fundo dá a ideia perfeita de um palco triunfante. Mas é ali que começa a melancolia.
Sem coragem de cometer o crime de matar o próprio filho, o Comendador sai por onde entrou acompanhado de seu capanga e filha Cristina (Leandra Leal), mas não foi perspicaz o suficiente pra imaginar que José Pedro teria uma arma na perna como suporte e que todo aquele desmaio não passou de uma encenação. E o que ninguém acreditava, aconteceu: José Alfredo morreu.
Tomada bastante difícil exigindo o máximo de interpretação de todos ali presentes, principalmente do já “órfão” José Pedro, num arrependimento praticamente instantâneo, não parecendo acreditar naquilo que tinha feito. Cristina, perplexa e revoltada com o que viu, logo tira a arma de sua mão, para evitar que ele cometa um suicídio. Ato acertado, já que conviver com tal culpa é ainda pior, beirando o insuperável. Mofou na cadeia.
Nos filmes de super-heróis como Batman ou Superman, você sempre os vê apanhar. Até porque não é nada emocionante bater o tempo inteiro, mas daí a matá-lo é um tanto audacioso, e também perigoso. Um risco que se corre.
O autor resolveu corrê-lo ao mandar o protagonista dessa pra melhor, mas tentando apaziguar e gerando certa dualidade no final, na fotografia do aniversário da Império das Joias, pondo o Comendador saindo entre a cortina da foto, recriando o início da trama.
Frustrante, mas ao mesmo tempo audacioso. Ninguém quer ver seu super-herói morrer e é isso que José Alfredo representava para os telespectadores nesses meses de novela.
Mas um final um tanto quanto diferente caiu como uma tentativa de apaziguar aqueles fãs mais fervorosos do Comendador, deixando uma dualidade no ar.
As “quatro mulheres” da vida de Zé merecem destaque no Monte Roraima jogando suas cinzas ao vento. Afinal, foi lá que a vida dele começou. E terminou. Mais uma pra coleção das cenas épicas das telenovelas. Grande tomada aérea e trilha sonora, tudo na mais perfeita harmonia.
Téo Pereira (Paulo Betti), como não poderia deixar de ser, aproveitou o momento da morte do Comendador para lançar uma biografia do homem de preto, tendo como comprador de um de seus livros, o próprio novelista, Aguinaldo Silva, prometendo que a próxima biografia não autorizada seria a dele.
Audiência
Com desfechos sendo aguardados com muita expectativa pelo público, o último capítulo registrou altos índices de audiência.
No ar das 21h25 às 23h23, ou seja, praticamente duas horas no ar, “Império” registrou média de 44 pontos com picos de 47, segundo dados prévios do Ibope na Grande SP.
Como relatórios consolidados costumam apresentar índices maiores, a trama deve chegar ao fim com recorde. O penúltimo capítulo teve os mesmos 44 pontos.
Para efeito de comparação, sua antecessora, “Em Família”, terminou no dia 18 de julho de 2014 com média de 37 pontos. Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há dez anos e assina a coluna Enfoque NT há quatro, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br | Twitter e Instagram: @tforatto
Desde o dia 4 de agosto, o moçambicano Rui Vilhena emplacou sua primeira novela na Globo, tendo já escrito outras em Portugal, até com relativo sucesso.
Sua primeira obra por aqui, “Boogie Oogie” chegou ao fim nesta sexta-feira (06) com 185 capítulos, sendo grande parte deles marcados pelo excesso. Excesso de repetição.
Com uma premissa piegas, a de trocar bebês na maternidade, o autor garantiu história pra contar até o último capítulo, mas com o estica daqui e puxa dali, acabou se perdendo por vezes na condução da história, o que comprometeu seu andamento, já que seu arrasto beirou o patético com tantos capítulos semelhantes.
Destes 185 capítulos, ao menos em 186 pudemos ouvir “troca de bebês” e o “segredo da Carlota”, fato este que quando revelado causou certa decepção já que se criou uma dimensão estratosférica em torno dele. Não que roubar diamantes de uma coleção feita para Carmen Miranda seja algo banal, mas pelas repetições excessivas desse tal segredo a todo instante, esperava-se mais. Crimes mais cruéis ou brutais. Nada disso.
Nada de política
O autor optou por não retratar politicamente o Brasil naquele ano de 1978. Apostou numa história mais água com açúcar, onde o verdadeiro protagonista foi o amor (e o ódio). Uma história de amor (e de ódio, claro). No entanto, os ditos “vilões” Pedro (José Loreto) e Vitória (Bianca Bin) passaram toda a novela correndo atrás de seus amados Sandra (Ísis Valverde) e Rafael (Marco Pigossi), respectivamente.
Aliás, Pedro sequer teve uma cena amorosa com Sandra durante toda a novela. O que houve foram apenas lembranças dos personagens e fotos.
Nada que justificasse tamanha obsessão ao não ser pelas palavras ditas por ele. Ao contrário de Vitória, que chegou a ficar noiva de Rafael, com um pedido de casamento cinematográfico no primeiro capítulo.
Carência cômica
É bem verdade que Vitória teve seus lapsos humorísticos e a menina Cláudia (Giovanna Rispoli) não ficou atrás. Para falar a verdade, a grande válvula de escape da trama nesse sentido, a veia cômica, veio por parte de Cláudia com suas tiradas que deixavam qualquer adulto sem resposta. Peralta e com uma resposta na ponta na língua, Giovanna roubou a cena e representou brilhantemente uma pré-adolescente dos anos 70, tirando até mesmo a vilã Carlota de seu eixo.
Este quesito poderia ser mais bem explorado com o personagem Vicente (Francisco Cuoco), que se sabotou com uma história de amor com Madalena (Betty Faria) sabendo que no fundo não daria em nada. Frases até de efeito foram usadas, mas Cuoco poderia ter rendido muito mais.
Personagens plantas
Foi difícil compreender a razão da existência do personagem Tadeu (Fabrício Boliveira). O rapaz apenas falava bonito, mas servia somente de escada para outros, não tendo utilidade alguma dentro da história. Parecia do elenco de apoio. Tadeu só ganhou força e alguma importância quando passou a se envolver com Inês (Deborah Secco), que também não teve grande relevância dentro de “Boogie Oogie”, sendo apenas a amiga chata de Suzana (Alessandra Negrini) avisando dos perigos de se vingar de Fernando (Marco Ricca) e das consequências que isso poderia trazer.
Andando em círculos
A história, embora clichê e promissora, tinha um ritmo bastante interessante, mas em muitos momentos andou em círculos. Rui Vilhena não sabia o que fazer com o que tinha em mãos e capítulo sim, e outro também, havia uma gritaria na mansão dos Fraga com acusações de segredos, troca de bebês e tráfico de diamantes. Acabou se tornando um martírio acompanhar uma trama que não se desenrolava e não dava pistas de quando as coisas sucederiam.
Trocando em miúdos, um ritmo alucinante contando sempre a mesma coisa.
Tempo perdido
Uma história paralela que insultou a inteligência do telespectador foi a possibilidade de Paulo (Caco Ciocler) ser o pai de Vitória. A menina mudou e ficou mais perdida que surdo em bingo tamanha era as trocas de pais que teve. Ora Fernando, ora Elísio (Daniel Dantas) e Paulo…
Foram até os Estados Unidos fazer um exame que era uma novidade na época, aquele tal do DNA. Quando chegaram, o resultado era de que Paulo seria o pai de Vitória. Que nada. Semanas depois foi descoberto que ele era estéril. Não convenceu. Um grande buraco no meio da trama sem uma explicação verdadeiramente convincente.
Reiterando
Como já disse em outra oportunidade neste espaço, Bianca Bin mostrou sua versatilidade ao interpretar uma dondoca com trejeitos, caras e bocas que lhe são peculiares. Veracidade impressionante e o grande papel foi dela.
Uma pena que seu final tenha sido solitário ao revelar-se que não era uma vilã de fato, e sim alguém que não media esforços para buscar um amor.
A impunidade
No país sem leis e da impunidade que vivemos, este denominado Brasil, parece que isso também está indo de encontro às telenovelas. Não que seja condenável, já que se trata de uma obra de ficção científica teoricamente. Mas é no mínimo estranho e temos que considerar a hipótese e questionar a razão dos maus se darem bem até mesmo na dramaturgia.
Durante boa parte de “Boogie Oogie”, falou-se num tal de “Corvo”, bandido famoso no Rio de Janeiro nas décadas de 1950 e 1960. Ninguém nunca tinha ouvido falar e juravam que ele era uma lenda. Carlota (Giulia Gam) sabia sua identidade. O Corvo na verdade era uma mulher, e pior: delegada. Ela atendia por Ágata (Pepita Rodriguez) durante seus momentos de cidadã e autoridade.
Ágata estava envolvida até o último fio de cabelo com o roubo de diamantes feitos pelo conceituado profissional do ramo de joias, Renan Fischer, que desenvolveu exclusivamente para Carmen Miranda. Grande parte dessas joias ficou com Carlota.
Mas, conforme a história foi avançando e Carlota perdendo o controle dessas pedras preciosas, surgiu outro enigma: quem era o tal atropelador? Todos que tinham em mãos esses diamantes morriam atropelados misteriosamente.
Homero (Osvaldo Mil) era um dos principais suspeitos, já que naquele roubo das joias na boate Vogue, nunca teve sua recompensa dada por Carlota. Homero é aquele típico malandro carioca dos anos 70, falando arrastado com uma camisa cujos primeiros botões eram abertos, tentando passar a perna em quem fosse. Devo ressaltar a boa representação do ator neste papel, que lhe caiu como uma luva, sabendo convencer o telespectador, embora também pudesse ser mais bem aproveitado.
No fim, ele foi pego tentando atropelar Vitória com a alegação de que era para dar um “susto” na moça, que prometeu entregar todas as joias à polícia. Do outro lado da rua, Ágata observou tudo e disse ao comparsa que ela mesma atropelou todos os outros, saindo impune da história. Detalhe: com parte das joias (que na verdade, eram falsas).
Traições e gran-finale
Depois de Fernando ter tido um harém num festival de amantes, Carlota se cansou e resolveu se vingar. Com Beto (Rodrigo Simas) na presidência da Vip Turismo, tudo se tornou mais fácil, mas a entrada da contadora Solange (Priscila Fantin) atrapalhou um pouco seus planos.
Deixando a empresa à beira de um colapso financeiro, Beto, que mais parecia um fantoche, tomou alguma atitude e “traiu” a própria mãe, deixando-o voar para fora do Brasil sem um tostão e Solange, que pensou que teria dado um golpe no patrão e “peguete”, saiu frustrada.
Beto teve um desencargo de consciência e devolveu tudo que surrupiou, enquanto a mãe, Carlota, também não voou. Pelo contrário, foi até o túmulo de seu finado marido, o bandido Ivan, para pegar as verdadeiras joias que escondeu por anos a fio. Debaixo da terra. Estava adivinhando…
Em suma
“Boogie Oogie” foi um festival de clichês, com um texto repetitivo e por vezes pueril, além das “barrigas” ao longo desses 185 capítulos.
Mas, há que se destacar os atores que foram bem escalados, direção afinada e a trilha sonora, que foi um show à parte.
Que venha “Sete Vidas”. Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há dez anos e assina a coluna Enfoque NT há quatro, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br | Twitter e Instagram: @tforatto
O ano de 2015 começou efervescente no meio televisivo, especialmente por causa da Record.
Após a contratação de César Filho no final do ano passado, a emissora dos bispos vem investindo forte para assumir de vez o segundo lugar, que está de volta com o SBT há sete meses.
A maior arma da Record é sem dúvida, Xuxa Meneghel. A eterna “Rainha dos Baixinhos” deve mudar de ares e dar expediente na RecNov, com atração a ser definida. Não se sabe se dará certo ou não.
Assim como a contratação do confeiteiro Buddy Valastro, mais conhecido como Cake Boss que apresentará “The Cake Boss”, onde procurará um sócio para abrir uma filial de sua loja em terras tupiniquins.
É uma incógnita? Não deixa de ser. Não sabemos se Xuxa é autossustentável a ponto de dar um retorno de audiência alto fora da Globo (sendo que nem lá estava conseguindo), mas comercialmente dificilmente não renderá.
Onde quero chegar com tudo isso é que enquanto a Record anuncia um caminhão de investimentos e se arma com bazuca, o SBT vem com um estilingue e a novidade mais animadora é a produção de “Cúmplices de um Resgate”, sucessora de “Chiquititas” que estreia no segundo semestre.
Claro, não poderia deixar de esquecer que o “Casos de Família”, “Programa do Ratinho” e Silvio Santos que também vem com novidades… Em HD.
Nos filmes, é certo de que é um filão que já não rende mais tanto na televisão aberta, mas a Record mantém parceria com a Universal (desta vez, Studios) e vai lançar longas como “Ted” e “Uma Ladra sem Limites”. O SBT, após deixar a exclusividade com a Warner, pena para fechar seu pacote cinematográfico para 2015 tendo quatro sessões de cinema.
“Dez Mandamentos”, primeira novela bíblica do mundo, promete impressionar pelos efeitos especiais. Pelo o que os diretores falam, não devem lembrar em nada a tentativa frustrada de fazer “Os Mutantes” uma superprodução, que estava mais para defeitos especiais. Até mesmo o “Chapolin” era mais convincente com suas pílulas encolhedoras e levitações.
Ousadia. Essa é a palavra. Como é sabido, há outras novidades que a Record vai lançar. Você também pode dizer que promover uma grande coletiva não quer dizer absolutamente nada em termos de resultados. Mas quer dizer que há audácia e sobretudo ambição.
Estamos com a economia em frangalhos e o medo de uma recessão econômica assola grande parte dos empresários, mas deixar de investir é estagnar-se quando sua maior concorrente vem com afinco e gana de retomar um lugar que até pouco tempo atrás era só seu.
Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há dez anos e assina a coluna Enfoque NT há quatro, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br | Twitter e Instagram: @tforatto
Nesta sexta-feira (19), a Record anunciou a troca de apresentadores do “Hoje em Dia”.
O programa estreou no segundo semestre de 2005 para suprir a lacuna deixada pelo “Note & Anote”, de Claudete Troiano. Com seu apogeu atingido entre 2006 e 2009, a atração obrigou, de certa forma, a fazer com que a Globo investisse em algo do mesmo gênero naquela faixa horária.
Com Ana Hickman retornando ao “Hoje em Dia” em 2015, será uma volta às raízes, de onde tudo começou e deu certo. César Filho acumula uma experiência de quase 10 anos no SBT e agora, mais maduro após ter uma passagem bem-sucedida pelo “Notícias da Manhã”, está pronto para assumir este posto de apresentador em sua nova casa.
A jornalista Renata Alves surge no meio disso tudo pra tentar dar a oxigenada que o programa precisava. Afinal, depois que o “Encontro” estreou em meados de 2012, o público ficou mais dividido e a emissora mais afetada foi a própria Record, que se viu de mãos atadas diante da concorrência.
Um programa como o “Hoje em Dia”, factual e leve, necessita de mudanças pontuais como essa. Acompanhar a concorrência, ter o rodízio de apresentadores maior e quadros rotativos é o segredo para tentar acompanhar um telespectador mais exigente.
A intenção foi resgatar um nome consagrado do “Hoje em Dia” (Ana Hickman), aliado a boa aceitação que César Filho teve nas manhãs do SBT recentemente. Além, é claro, do enorme potencial comercial que os dois têm para vender. Acima de tudo, a atração sempre teve um poder de venda ao mercado publicitário excepcional. Não à toa, completa 10 anos no ar em 2015.
E só conseguiu chegar a uma década de vida por conta de ajustes necessários ao longo desse tempo todo.
Assim como nos Estados Unidos, por exemplo, esse tipo de programa é cíclico, como o “Good Morning America”. Ou seja, é uma atração que não tem dono. E o “Hoje em Dia” entrou nessa lista, não podendo ser vinculado a este ou aquele artista que passou por ali e emprestou seu nome.
Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há nove anos e assina a coluna Enfoque NT há três, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br | Twitter: @Forato_
Zapear pelas programações das televisões abertas no sábado é uma verdadeira tortura. O telespectador que não tem um serviço de TV por assinatura e acaba ficando em casa, não encontra nada verdadeiramente interessante neste dia tão morto.
A começar pela Bandeirantes que exibe mais do mesmo e nada diferente do que já transmite durante a semana: o “Sabe ou Não Sabe” e o “Brasil Urgente”. Mesmice e pouco investimento é até compreensível já que essas duas atrações são relativamente bem-sucedidas nos dias úteis.
Na Record, o desenho surrado do “Pica-Pau” (que acaba sendo até o melhor que há… que fase), um filme velho no “Cine Aventura” que a fita já deve estar até amarelada mais uma edição do “Cidade Alerta”. Ou seja, mais uma vez nenhum produto verdadeiramente interessante.
O SBT, por sua vez, aposta grande parte da programação no Raul Gil, que não se recicla. Comanda o mesmo programa há décadas e pode fazer com que o telespectador que sofra de insônia, acabe confundindo Raul Gil com Rivotril e pegue no sono. Vez ou outra há alguém interessante no quadro “Elas Querem Saber” mas é muito pouco para uma atração tão longa. A audiência é correspondente e não consegue brigar sequer pela segunda posição. Precisa de ajustes. E faz tempo.
A Globo tem em Luciano Huck a confiança para comandar as tardes de sábado. Aquele mesmo Huck que tirou a liderança de Raul Gil, quando este ainda estava na Record e era primeiro lugar do horário. Demorou dois anos para que isso acontecesse.
Com bastante assistencialismo, fato que curiosamente ninguém critica (será que é por estar na Globo?), o “Caldeirão do Huck” se consolidou no horário mas está longe de ser um poço de diversão.
Há muitos anos as tardes de sábado não tem uma sacudida e o que se vê é um marasmo absoluto com as mesmíssimas atrações há anos. O melhor programa num sábado à tarde é ler um livro, passear pelo parque ou qualquer outra coisa que passe longe do objeto televisão.
Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há nove anos e assina a coluna Enfoque NT há três, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br | Twitter: @Forato_
Embora Hebe Camargo faça uma falta inestimável à maior maratona de solidariedade da televisão brasileira, o “Teleton”, é evidente que a cada ano que passa Silvio Santos se supera nos encerramentos.
Em 2013, fez uma dupla a la Pelé e Coutinho com Ivete Sangalo, e ainda que ela não tenha participado neste ano por outros motivos, Silvio não deixou por menos, e como verdadeiro showman, usou os instrumentos que tinha para entreter o público: sua família e apresentadores da casa que foram chamados de “supetão”.
Com seu cabelo penteado para o lado esquerdo projetado por Oscar Niemeyer relembrando os bons tempos (corte que voltou a utilizar há alguns meses), Silvio exigiu que seu neto Tiago Abravanel trabalhasse suas músicas nos programas da casa e fez piada até com seu câncer de próstata, que era desconhecido até fevereiro deste ano, quando ele deu uma entrevista à revista Veja de São Paulo.
Silvio estava inspirado arrancando sucessivas gargalhadas do público com sua habilidade e naturalidade ao rir de si mesmo. Como ele mesmo faz questão de dizer, “da vida não se leva nada, vamos sorrir e cantar”…
Como de costume, ele entrou no palco de surpresa distribuindo chocolates. “Quem quer chocolates?”, dizia. Não só fez piada com ele, como com os outros. E sem medo de represálias do público. Brincou até com o cabelo da personagem Pata, de “Chiquititas”. “O que você quer ser quando crescer?”, perguntou o dono do SBT. “Atriz ou cantora”, respondeu. “Mas, com esse cabelo?”, devolveu. “Como assim?”, questionou a atriz com cara de espanto. Muita gente pode ter levado o comentário a um tom preconceituoso, que não existiu. Como neste país as coisas estão ficando cada vez mais chatas, tudo virou preconceito.
Tempo
O “Teleton 2014” foi o mais longo da história. Terminou quase 2 horas da manhã. No ano passado, se encerrou à 1h07.
Especiais
Ainda falta ao “Teleton” resgatar a produção de programas especiais para o evento, como muito já foi feito, tais como o “Curtindo uma Viagem”, “Show do Milhão” e “Show de Talentos”.
Solidariedade?
Num país com 200 milhões de habitantes, pedir, implorar por 5 reais que seja durante quase 30 horas, e ainda assim bater a meta de R$ 26 milhões muito graças aos cheques gordos da empresas, é algo a ser refletido por nós. Isso não é uma competição de quem doa mais, mas num país onde o brasileiro adora estufar o peito pra dizer que é “solidário” e “generoso”, alcançar a meta com tantas dificuldades? 5 reais! Num país com 200 milhões de habitantes!
Outro ponto a se destacar é a rede da amizade, que este ano teve a TV Cultura, a Fox Life e Nickelodeon, que também transmitiram o “Teleton”. A Cultura se deu bem até no Ibope. Em horários que dava traço, chegou a 2 pontos. Aliás, a maratona, que tinha uma audiência extremamente baixa, hoje já podemos dizer o contrário. Teve constância no segundo lugar e quando Silvio Santos apareceu, deixou a Globo em segundo.
No mais, que venha o “Teleton 2015”!
Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há nove anos e assina a coluna Enfoque NT há três, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br | Twitter: @Forato_
Tomar uma decisão não é fácil. E tomar uma decisão como se fosse trocar o certo pelo duvidoso, menos ainda. Mas, na vida, às vezes, é necessário arriscar. O que Rafael Cortez fez no final de 2012, quando trocou o Morumbi pela Barra Funda, foi exatamente isso.
Na Bandeirantes, ele era um repórter em evidência de um programa que era uma das maiores audiências do canal, o “CQC”. E foi para a Record comandar um formato enlatado, o “Got Talent”, que fez relativo sucesso em alguns países, mas onde o protagonista da atração não era o apresentador, e sim os candidatos e jurados. É assim em qualquer formato do gênero.
Não deu certo. A audiência não correspondeu, Cortez foi para a geladeira, mas teve a chance de emplacar nas noites de sexta, meses depois, onde há anos está os consolidados “Globo Repórter” e “Tela de Sucessos”, este do SBT.
A tentativa foi ainda mais frustrada, já que Rafael chegou a marca de 2 pontos de média. Foi engolido pelos filmes da emissora de Silvio Santos e chegando a perder para as reprises do “Pânico”, da sua ex-emissora.
A atração, na ocasião, era o “Me Leva Contigo”, sobre namoro, algo que Rodrigo Faro, Celso Portiolli e Silvio Santos já exploraram até a última gota tempos atrás. De fato, era um gênero que estava um pouco esquecido, mas reacendê-lo naquelas circunstâncias não foi uma boa jogada.
Com o contrato terminando no final de dezembro, o caminho natural de Rafael Cortez é voltar para a Band. E por que não como repórter do “CQC”? Não seria um retrocesso. Foi ali que ele despontou e onde obteve mais sucesso.
Nos fóruns de discussão sobre TV, os “sbtistas” já existem há muitos anos, mas com a criação do Twitter e Facebook, eles se proliferaram e tornaram-se mais evidentes. Esses grupos de torcedores do SBT chamam atenção como encaram a emissora, como se fosse um clube de futebol.
Geralmente, são jovens que pegaram a fase de ouro do canal e cresceram assistindo à programação infantil como “Chiquititas” (primeira versão nacional), “Disney Club” e, claro, Silvio Santos. O dono do Baú é capaz de despertar esse tipo de sentimento nas pessoas, que nenhuma outra emissora consegue. Os “globistas” ou “recordistas” até passaram a existir de um tempo pra cá, mas não de forma tão flagrante como os sbtistas.
Quando começou?
“O SBT nasceu de um sonho…”, essa é uma frase repetida por executivos da emissora e dita até em institucionais da empresa. O maior “culpado” por toda essa legião de fãs formada atende pelo nome de Senor Abravanel. Não se sabe outra empresa que esteja tão ligada ao carisma do seu dono.
Em espaço para discussão de TV, os sbtistas sempre existiram. Os números do Ibope servem como um placar nos jogos de futebol. Conforme eles aumentam, a torcida se esgoela, acha o máximo ver seu time vencendo e esfrega os resultados nos adversários, no caso, os “recordistas” e “globistas”, que também existem, mas em menor escala (bem menor, na verdade).
Cornetas
Como todo time, é natural que existam os famosos corneteiros, aqueles que torcem para seu clube, mas sempre reclamam do desempenho dentro de campo, pedindo pra mudar tudo. Não é diferente com o SBT. Os “sbtistas” pedem para que programas sejam rifados do ar, contratações de estrelas de outras emissoras, reformulação da grade, cobram diretores, etc. O nível de exigência é alto e isso é debatido entre os próprios os fãs.
Ou seja, mesmo torcendo pelo SBT, eles não gostam necessariamente da programação. Pelo contrário, na maioria das vezes não gostam e mudariam muita coisa. É bastante curioso como uma estação de televisão pode ter a capacidade de aguçar esse tipo de sentimento.
Em conversa com José Eustáquio Júnior, criador do blog SBTpedia, ele confirma as teses da existência de sbtistas, e diz que tudo isso se dá pelo carisma do SBT e Silvio Santos, que norteia a construção de TV e telespectador que existe entre a emissora e seu público.
“A forma de comunicação popular dele atrai rejeição muito baixa. Além disso, o fato de muito dos sbtistas terem crescido no auge dos programas infantis da emissora contribuiu para que essa identidade com o canal fosse criada”, conta.
Curiosamente, a emissora mais “querida” pelo público não é a líder de audiência no Brasil. Pelo contrário, há alguns anos, como se sabe, o SBT se tornou o terceiro colocado, mas que hoje já disputa de forma mais acirrada com a Record. Contatos do colunista: thiagoforato@natelinha.com.br | Twitter: @Forato_
Jô Soares voltou na madrugada desta segunda para terça (9) a comandar seu programa na Globo, após ficar 21 dias internado com um quadro de infecção pulmonar. Muita coisa foi dita, e muitos já o davam como morto, tamanhos boatos (aparentemente descabidos) lançados de quando esteve no hospital a base de antibióticos.
O que importa é que Jô já está de volta à ativa, visivelmente mais magro e sem barba. Seu visual lembra os tempos de “Veja o Gordo” e “Viva o Gordo” nas décadas de 1980 e 1990.
Para quem não se lembra, Jô Soares retornou à Globo em 2000, após um período de 12 anos no SBT. O apresentador, escritor, humorista, comediante, diretor, ator (e mais algumas outras capacidades) foi contratado pela emissora carioca na mesma época em que Luciano Huck, Ana Maria Braga e Serginho Groismann vieram para dar reciclar um pouco a programação e enfraquecer os concorrentes.
O apresentador voltou à Globo não só pelo dinheiro, mas pela possibilidade de, naquele ano, utilizar a estrutura da emissora como o envolvimento do departamento de jornalismo, que chegou a fazer algumas matérias especiais quando era necessário, e a tecnologia, quando entrevistou algumas personalidades fora do estúdio em algumas ocasiões (via link de satélite).
Na época, Jô disse ter sentido que não havia mais espaço para sua atração no SBT, da mesma forma que saiu da Globo em 1987 porque ela não teria um espaço para um programa de entrevistas, que gostaria de comandar.
Vale lembrar que por muito pouco o Habite-se não foi liberado pelo prefeito de São Paulo da época, Celso Pitta, para que o estúdio 3 da Globo pudesse funcionar e acomodar as gravações do “Programa do Jô”. A Globo, naquele tempo, divulgou uma série de escândalos que estava acontecendo na administração municipal e levantou a hipótese de sofrer represálias por exercer seu papel. Na estreia, foi cogitada até mesmo a ideia de Jô ir à casa dos entrevistados ou fazer reportagens na rua.
De lá para cá, momentos memoráveis e entrevistas épicas, mas hoje o que restou foi apenas um Jô Soares “limpo”. Nada de quadros humorísticos ou qualquer outra coisa. No máximo, uma boa entrevista. O programa se engessou e Jô acabou sendo conivente com isso, mas segue sendo um dos melhores entrevistadores da televisão brasileira e motivo de inspiração. Tornou-se referência, inclusive para seu concorrente direto, Danilo Gentili, que frequentemente lhe toma o primeiro lugar no Ibope.
É preciso saber reconhecer que Jô Soares não precisa mais provar nada pra ninguém. O que muda se ele perder a primeira colocação? Nada. A história que ele construiu na televisão brasileira é algo invejável e todo o resto é pequeno.
Que ele consiga continuar apresentando, e conciliando suas outras atividades por muitos anos, pois tê-lo fora da TV seria uma perda irreparável. Muitos o criticam, com o argumento de que ele é arrogante e quer aparecer mais do que o entrevistado, fato que realmente acontece. Jô consegue por vezes tornar a entrevista interessante com um convidado desinteressante.
Seu horário na Globo, contudo, vem ficando cada vez mais ingrato ao longo dos anos, já que em seus primeiros anos entrava entre 0h e 0h15. Desde 1988, quando começou a fazer talk-show, Jô Soares sempre foi uma boa companhia no final de noite, como aquela conversa com um amigo, pai ou mãe antes de dormir. Mas, por melhor que seja a conversa, nem sempre vale a pena ficar acordado até tarde. Converse com o colunista: thiagoforato@natelinha.com.br | Twitter: @Forato_