lara tinha um marido com uma doença no coração e um filho. Formavam aquelas famílias de comercial de margarina, até que chegou Marina e bagunçou tudo. Muitos pegaram birra e a viam como uma destruidora de lares. Mesmo diante dos comentários negativos, Manoel Carlos fechou os olhos e as duas terminaram juntas.
O ex-marido de Clara, no entanto, se deu bem, aceitando demoradamente (mas aceitando) a condição dela e ficando com Verônica (Helena Ranaldi).
Ausência de humor
Toda boa novela é farta de um núcleo cômico eficiente. “Em Família” teve na Casa de Repouso, entre os moradores da melhor idade uma boa válvula de escape, mas o autor não soube aproveitar e fizeram apenas figuração, com passagens não muito empolgantes. Hora ou outra alguma coisinha, mas nada realmente que possa ser destacado por aquelas bandas.
Shirley (Viviane Pasmanter) era vista também com grande potencial para dar um toque de humor à trama com seu estilo debochado e perverso. Não aconteceu.

Vilões em potencial
Shirley, além de postulante ao núcleo cômico, também era cotada para começar a aprontar todas, o que também não aconteceu. Ficou naquele vai não vai, e acabou não fazendo nada pelo seu grande amor, ao não ser proferir meia dúzia de frases de efeito que nada resultavam.
Branca (Ângela Vieira) talvez tenha sido quem mais se aproximou do título de vilão. Aprontou algumas para seu ex-marido Ricardo (Herson Capri). Quando as coisas estavam começando a ficar empolgantes, ela recuou e desistiu, desapontando todos aqueles que curtem um bom vilão.
Banalização
Confesso que uma história paralela me chamou bastante atenção: a forma com que Alice (Érika Januza) entrou na polícia. Tudo sem a menor burocracia e de forma rápida. Num curto espaço de tempo, já estava tendo experiências em operações policiais de alto risco. O que dizer?
Buraco
O folhetim teve um buraco um tanto quanto curioso. Antes da Copa do Mundo começar, os alunos do Galpão Cultural discutiam sobre a possibilidade de Laerte colocar telões para assistirem aos jogos por lá. Capítulos depois passaram-se meses, Juliana (Vanessa Gerbelli) ficou com barriga e a Copa do Mundo ainda não havia terminado na novela.
O que deu certo?
Dá para se destacar o bom núcleo de Juliana e seus “dois maridos”, Nando (Leonardo Medeiros) e Jairo (Marcelo Mello Jr.). A luta de Juliana para ter a guarda de Bia (Bruna Faria) foi envolvente e roubou a cena. A personagem assumiu o papel de protagonista e foi, sem dúvida, o ponto alto da trama.

Núcleo foi o ponto alto da trama
Falando da menina Bia, não entendi até agora como ela passou nos testes da Globo. Por vezes tive a impressão que ela era muda, tamanha sua apatia. Teve poucas palavras e expressões na novela. Provavelmente uma boneca poderia representar a sua personagem sem problema algum.
Em contrapartida, diante de uma atriz mirim inexpressiva, tivemos como oposto o promissor Vitor Figueiredo, intérprete de Ivan. O garoto tem jeito pra coisa. Extrovertido, desinibido e cativante. Fez as cenas dramáticas no tom certo com alto teor de veracidade.
Alcoolismo
Manoel Carlos sempre coloca em suas tramas problemas da sociedade. Mas, de uma forma inédita (quanta criatividade), ele trouxe o alcoolismo para mais uma de suas obras. Assunto tratado em seus últimos folhetins: “Viver a Vida” (2009), “Páginas da Vida” (2006) e “Mulheres Apaixonadas” (2003).
A história de Felipe (Thiago Mendonça) não se desenvolveu e não saiu como o esperado. A quantidade de histórias paralelas fez Maneco se perder nas páginas do roteiro e o alcoolismo ficou sem norte e não rendeu o que se esperava.
Sem classificação
Fico na dúvida se considero o problema de Selma (Ana Beatriz Nogueira), mãe de Laerte, como um drama ou comédia. Com surtos de cleptomaníaca, um possível princípio de Mal de Alzheimer, e falando com gente que já morreu (Itamar, seu falecido marido), não há como diagnosticá-la. Teve bons momentos, mas é mais um dos assuntos que o autor não soube tratar.
Aliás, Ana Beatriz Nogueira tem 46 anos, mais velha que a ex-mulher de seu filho, Helena Ranaldi, com 48. Mas é claro, não temos que nos apegar à idade, já disse Manoel Carlos. Mas fica registrado a título de curiosidade.
Assassinato de Laerte: surpresa e surrealismo
Agora chegou a vez de falar da grande “surpresa” do desfecho de “Em Família”.
O grande “choque” veio com a notícia de que Lívia (Louise D’Tuani) mataria Laerte. Não há alguma explicação verdadeiramente convincente que me faça acreditar neste roteiro. Barbárie.
Lívia beijou Laerte duas vezes, e embora sempre tenha dito o quanto era difícil ficar ao lado do flautista por ser uma paixão não correspondida, nada justifica o devaneio do autor em colocá-la como assassina. Quase todos os outros personagens da novela teriam mais motivos pra matá-lo.
Sem saber o que fazer com a história em mãos, Manoel Carlos optou por um desfecho pouco provável fugindo do entendimento de quem assistiu à novela. Se essa foi sua intenção, deixar o telespectador confuso ou irritado… Conseguiu.
Falta de criatividade
Em suas novelas, Manoel Carlos geralmente opta por fins óbvios com seus personagens, e “Em Família” não fugiu à regra. A maestria que tem normalmente para desenvolver histórias, o mesmo não se pode dizer na hora de terminá-las. É todo mundo casando e tendo filhos felizes para sempre… Poucas surpresas.
Apesar dos pesares, de um folhetim repleto de falhas na sua condução e por muitas vezes repetitivo, nada vai apagar a história de Manoel Carlos na televisão, que foi dono de tramas memoráveis e inesquecíveis.
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