
Após o jogo a diretoria disse que a princípio o Abel permanece. A situação será avaliada, disseram. É o famoso “segue prestigiado” que geralmente termina com a cabeça do treinador numa bandeja, em meio a agradecimentos fajutos e explanações sobre o novo “planejamento”.
Demitir o Abel.
É evidente que a hipótese passa na cabeça de todo tricolor, principalmente depois de mais uma derrota para um time que vai brigar embaixo o campeonato inteiro.
Passa pela minha também.
Está claro que nosso treinador está perdido. Ficou refém de suas convicções durante meio ano e só agora dá mostras de querer mudar o rumo das coisas. Acho que é tarde. Acho não, estou certo disso.
Fico em dúvida.
Mas se fosse eu a decidir, mesmo insatisfeito com seu trabalho, não o demitiria agora.
Aliás, acho que as duas realidades podem, sim, conviver, coexistir. Julgo seu trabalho em 2013 como muito ruim (e os números deixam isso evidente), mas ponho na balança o grande trabalho que fez no ano que passou e, é claro, a evidente escassez de bons nomes no mercado.
Complicado, porque sei que virarei vidraça da maior parte da torcida, que parece já ter jogado a toalha com nosso técnico.
Compro essa briga.
Não entro nessa onda de simplificar algo que evidentemente ultrapassa as quatro linhas. Não estou convencido de que o Abel perdeu o grupo, como repetem à exaustão nas redes sociais.
E nem de que não pode dar a volta por cima.
Além disso, tem o lado prático. Iríamos de Luxemburgo, e sua maneira – como posso dizer? – pouco ortodoxa de trabalhar? Ou de Muricy, o mesmo camarada que cavou, pelos bueiros das laranjeiras, a própria saída, num dos episódios mais lamentáveis de nossa história recente?
Na hora do aperto, prefiro ficar ao lado dos que têm caráter.
Não há salvo conduto para o Abel. É claro que ninguém no futebol, e isso em qualquer clube, se sustenta numa sequencia infinita de derrotas. Mas, numa conta sem paixão, dou meu crédito ao cara, a despeito de reconhecer – e me irritar – com sua teimosia que esse ano tem beirado a burrice.
A reflexáo que sugiro que façam é: num jogo estranho como o de hoje, no qual entregamos o resultado num golpe de MMA de nosso artilheiro, quais eram as opções de nosso treinador?
O elenco modelo, vencedor ano passado, hoje tinha Rhayner e Marcos Júnior para mudar o jogo.
Rhayner e Marcos Júnior…
Não admitir que hoje temos apenas um time comum, sem grandes opções e sem alternativas técnicas é não observar, não enxergar o óbvio.
É claro que nosso treinador tem grande parcela de culpa, mas qualquer escalação de qualquer torcedor tricolor iria destoar no máximo em dois ou três nomes do que vem sendo adotado pelo Abel.
Perdemos o Nem, jogador veloz e agudo, devolvemos o Thiago Neves ao árabes, um cara que sabia finalizar como poucos, nos desfizemos de outras peças de reposição (nosso goleiro reserva jamais jogou um jogo importante na carreira) e não trouxemos ninguém.
Times de menor peso, como o próprio Vasco, cuja direção é sabidamente muito fraca, trouxe boas peças nessa janela. Outros, como o Inter, foram buscar uma base de estrangeiros que certamente tem tudo para dar certo.
O Fluminense parou. Sentou em cima de um título partindo da premissa que estava sobrando na turma.
E isso não existe no futebol brasileiro.
E ainda que existisse, acho que ficou claro para todo mundo que fomos campeões na base da camisa. Nem de longe jogamos em 2012 um futebol que nos credenciasse a pensar que seríamos imbatíveis um ano depois.
Era fundamental trazer reforços de bom nível para mexer com os brios de alguns jogadores que se sentem intocáveis. Parte do sucesso do futebol se deve à competitividade entre os atletas de um mesmo grupo.
Mas não… No Fluminense impera a tese de que em time que tá ganhando não se mexe.
Só se for para vender.
Falar da inabilidade do Rodrigo Caetano é chover no molhado. Nosso diretor de futebol pode ser bom de marketing pessoal, mas tem se demonstrado um péssimo gestor de série B no campeão da série A.
Nosso alto executivo recebe mais do que 90% dos camisas 10 do campeonato, leva grande parte do investimento da Unimed e não tem agilidade, nem criatividade, sequer entusiasmo, para fortalecer nosso elenco.
Até certo ponto acho que ele deve responder pela maior parte do problema. Seria assim em qualquer empresa. De certo modo, afinal, gestão profissional é escolher, delegar e confiar.
Mas acho que atravessamos uma fronteira perigosa. A partir de agora, permitir que a condução do futebol se mantenha nas mãos do Caetano e do Sandrão, nessa mesmice e inação injustificáveis, deixa de ser delegar e confiar e passa a ser se omitir.
O Peter tem a obrigação de interferir imediatamente. E dele espero – acho que todos esperamos – que use toda a boa vontade e entusiasmo que tem dedicado aos assuntos extra campo também para nosso futebol. É evidente que o trabalho nesse campo está ruim.
Não sou ingênuo e sei que dependemos da boa vontade e da lua que esteja regendo o presidente da patrocinadora. Mas essa variável era conhecida por todos no início da relação entre o Celso Barros e a atual diretoria do clube.
Ter jogo de cintura e costurar os bastidores – ainda que instáveis – nos corredores da Unimed sempre esteve entre os principais desafios do clube.
Não dá para dizer que foram pegos de surpresa.
É um absurdo, uma vergonha, o Fluminense não ter vencido um único grande adversário desde novembro do ano passado e não ter se movimentado um metro que fosse na busca por soluções.
Entramos numa crise, não há dúvida. Nesses momentos, as decisões e reflexões devem ser tomadas e havidas de forma diferente.
O comandante tem que pegar na porcaria do leme e ter coragem para tomar as decisões mais objetivas e mais corajosas.
Estou convicto de que a troca do treinador seria o caminho mais fácil. Daria pronta resposta para a torcida e varreria um pouco da sujeira para debaixo do tapete.
Mas não estou convencido de que seria o melhor a ser feito.
O que o Fluminense precisa é de jogador. Precisa de um zagueiro, de um armador de chegada na frente, de um reserva para o Fred e de um atacante de velocidade.
Esses nomes não vêm da base. E nem do exterior, porque a janela já era.
Precisamos de alguém que queira e que tenha competência para buscá-los, mesmo diante de nossas conhecidas dificuldades.
Alô, Peter, a hora é de mostrar comando.
Abraços tricolores
CURTAS
– Deco não dá mais. Eu me convenci disso. Defendi o cara aqui por muito tempo. Chega. É master. Está enganando o Fluminense. Seria decente com a própria carreira que parasse agora.
– Abel, mesmo com poucas alternativas, errou ao não colocar o Rhayner imediatamente após a expulsão do Fred. Jogamos mais da metade do primeiro tempo com menos dois.
– Wagner ou Macula? Macula. Wagner ou Julinho? Julinho. Wagner ou Luís antonio? Luís Antônio. Wagner ou Renato sem sangue? Renato sem sangue. Wagner ou tupazinho? Tupazinho. Etc. Etc. Etc…
– Marcelo de Lima Henrique sabe fazer o trabalho direitinho. Tem uma metodologia muito mais moderna do que os árbitros mais antigos. Não a toa é hoje o juiz preferido do Rubinho. Abel foi corajoso na coletiva e deixou claro ao ser perguntado se achava que o fato do Fluminense estar em pé de guerra com a FERJ influenciava nas arbitragens: “sim”. Não fiquei surpreso com a atuação do juizinho. Acho que quase ninguem ficou.
– Edinho não resume nem de longe os problemas do time. Mas precisa ser barrado, sim. Diguinho? Digão? Se vier Fábio Braga eu peço a cabeça do Abel e peço desculpas a todos vocês, um por um.
– ainda essa semana escreverei sobre o Maracanã. Por agora, fica o registro sobre a ridícula quantidade de ingressos vendidos pelo consórcio. 250 reais a zona central é prova cabal de amadorismo e grandiloqüência injustificada. Ainda bem que não encheu. Parece que farão de tudo para acabar com o futebol.
Gustavo Abulquerque
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