Esquema foi descoberto durante investigação sobre atentado em Olaria.
Vítima sobreviveu, reconheceu autor de tiros e polícia desvendou o caso.

Quase sete meses depois de um atentado contra uma mulher em Olaria, na Zona Norte do Rio, a Polícia Civil divulgou o mandante e o autor do crime já estavam presos. Para tentar matar a vítima, o executor pagou propina para deixar a cadeia o principal complexo penitenciário do estado.
O esquema de pagamento de propina para que presos deixassem a cadeia para passear e cometer crimes foi divulgado com exclusividade pelo RJTV. Agentes da delegacia da Penha estavam investigando uma tentativa de assassinato quando descobriram o esquema.
A tentativa de assassinato que estava sendo investigada ocorreu em 26 de novembro do ano passado. A mulher, de 31 anos, saía de casa, em Olaria, quando seu carro foi metralhado. Ao todo, 13 tiros atingiram o veículo. Socorrida em estado grave, ela acabou sobrevivendo.
Segundo a polícia, Marcelo de Almeida Farias Sterque, condenado há mais de dez anos de prisão, cumpre pena por roubo e assassinato no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, foi quem atacou a vítima. Ele cumpre pena em regime fechado, não pode sair da cadeia nem para trabalhar, mas pagou agentes penitenciários para sair da prisão.
Os investigadores descobriram que a ordem para matar também partiu de dentro da cadeia. O mandante é Waldemar Ferreira Bastos Neto, condenado a 30 anos de prisão por roubo, homicídio e tráfico de drogas. Atualmente ele cumpre pena num presídio de segurança máxima, mas, na época do atentado, era companheiro de cela de Marcelo, na Penitenciária Bandeira Estampa.
Os policiais da delegacia da Penha afirmam que Waldemar planejou tudo para que Marcelo pudesse sair da cadeia e matar a mulher.
“Ela [a vítima] de pronto reconheceu um dos autores dos disparos como sendo amigo do Waldemar, o mandante do crime, e narrou várias outras circunstâncias em que o Waldemar saía, escoltado pelo pessoa da Seap [Secretaria de Administração Penitenciária], com a desculpa de ir ao médico e aproveitava pra fazer outras coisas e lanchar com os filhos e fazer um monte de regalias, sempre escoltado pelos guardas da Seap”, contou o delegado Reginaldo Guilherme da Silva.
A vítima ter sobrevivido foi determinante para que a polícia pudesse descobrir o esquema. Os investigadores concluíram que Waldemar mandou matar a vítima por achar que ela queria o fim do casamento dele.
Escutas telefônicas
Em depoimento, a vítima disse que, ao ser abordada pelo homem armado, reconheceu que era Marcelo, amigo de Waldemar na prisão. A partir daí os policiais conseguiram autorização da Justiça e quebraram o sigilo telefônico da mulher de Waldemar.
“O grampo serviu exatamente pra ratificar as declarações da vítima. Como que uma pessoa presa poderia ser o autor de um homicídio?”, destacou o delegado Reginaldo da Silva.
As gravações também mostram que Waldemar saía com facilidade da prisão. Numa delas, a mulher dele conversa com um parente. Segundo os policiais, ela fala sobre o valor a ser pago aos agentes penitenciários, apenas por uma saída da cadeia.
Mulher de Waldemar: Ele vai pagar tudo, ele mandou o dinheiro para pagar os caras e pagar nosso almoço.
Parente: Quanto ele gastou nessa brincadeira?
Mulher de Waldemar: Bom, ele mandou me entregar aqui seis mil e quinhentos.
Em outro trecho ligação, a polícia diz que fica claro que o bandido está em um restaurante, esperando pela família.
Mulher de Waldemar: Já chegou aí?
Parente: Já, já tô com ele aqui, problema é que a Norte Grill, o estacionamento tava fechado, aí teve que esperar um cara pra abrir.
Um dos passeios de Waldemar foi em fevereiro desse ano. Ele deixou o presídio, num carro da Secretaria de Administração Penitenciária, pra fazer um exame médico, e não voltou. Dez dias depois ele foi detido, voltou para a cadeia e acabou confessando à polícia que tinha pagado propina aos agentes para sair.
As escutas revelaram ainda que, depois dessa confissão, Waldemar teve medo de ser assassinado pelos agentes penitenciários.
Parente: desde quando ele entrou, nunca mais comeu comida.
Mulher de Waldemar: Hã?
Parente: a advogada falou que ele não comeu comida até hoje.
Mulher de Waldemar: Ah, mentira?! Tá com medo de ser envenenado.
Parente: É. Só come coisa lacrada, biscoito, essas coisas assim.
Waldemar e Marcelo serão indiciados por tentativa de homicídio. Pelo menos dois agentes penitenciários deverão responder por concussão, corrupção cometida por funcionário público.
“Esse inquérito vai ser encaminhado para o Ministério Público, e posteriormente vai ao juiz, que vão extrair cópia para que a Seap tome as providências cabíveis quanto aos fatos ali narrados.
Infelizmente, em todos os órgãos existem os bons e os maus funcionários. Isso deve ser uma minoria dentro da Seap, mas deve ser combatido com veemência”, destacou o delegado Reginaldo Guilherme da Silva.
A Seap disse que não há registro de saída de Marcelo na data do atentado. Sobre a fuga de Waldemar nesse ano, a Secretaria disse que foi instaurada uma sindicância interna e que os inspetores responsáveis foram afastados e respondem a inquérito. As investigações sobre o envolvimento de agentes penitenciários continuam.
G1.COM.BR
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