Notícia Publicada em 19/04/2016 11:58
Renan Calheiros, com o impeachment na mão, e Michel Temer estão no foco dos investidores
SÃO PAULO – O mercado brasileiro disparou mais de 20% em 2016 com a expectativa de que o impeachment da presidente Dilma Rousseff abrisse caminho para um novo governo que pudesse resgatar a confiança e abrir espaço para a retomada econômica. No domingo (17), o processo passou na Câmara dos Deputados e, agora, segue para o Senado.
Na segunda-feira (18), a primeira sessão após votação no plenário, o Ibovespa caiu 0,63%. O movimento pegou de surpresa alguns investidores, mas foi entendido como uma realização de lucros após o rali. E agora, o que deve guiar a Bolsa até a definição final do processo de impedimento de Dilma e o início do governo Michel Temer?
“Agora é a questão do fato novo, que tem complicadores de tempo. Pode ser que Renan Calheiros antecipe o processo, mas isso ainda sabemos. Estamos de volta ao imponderável, que é o grande complicador”, diz Jason Vieira, economista da Infinity Asset. Os presidentes do Senado e do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, vão decidir em conjunto o rito do processo, que ainda não tem data para ocorrer.
A política
“Ainda achamos que os mercados ficaram muito otimistas com o Brasil sobre a potencial mudança política”, analisa a consultoria norte-americana BBH (Brown Brothers Harriman) em relatório. Os rumores sobre quem irá ocupar a cadeira quente de ministro da Fazenda já têm movimentado os mercados. O vice-presidente corre atrás de nomes fortes para economia, infraestrutura e área social.
“Discussões sobre o ministério da Fazenda têm agradado o mercado. Por mais que o Armínio [Fraga] não esteja disposto a aceitar, só o convite já é um bom sinal. Confirmando o que se esperava de montar um ministério com perfil mais tecnocrata de notáveis. O mercado gosta disso”, afirma Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do Indosuez Wealth Management.
No entanto, apuração de O Financista mostra que as dificuldades enfrentadas por Joaquim Levy e Nelson Barbosa tornam o cargo de ministro da Fazenda “o mais indesejado”. De acordo com fonte próxima ao assunto, “Temer já recebeu três respostas negativas de pessoas que ela gostaria de ter no comando da Fazenda”.
Desde o início do processo de impeachment da presidente Dilma, o prêmio de risco país (CDS –Credit Default Swap) já recuou 107 pontos base. “Em nossa opinião, o prêmio de risco poderá recuar ainda mais dependendo do sucesso das medidas propostas e adotadas nos primeiros meses do novo governo”, avaliam Cristiano Oliveira e Camila de Caso, economistas do banco Fibra.
Obstáculos
Ramón Aracena, economista-chefe para a América Latina do IIF (Institute of International Finance), uma organização que reúne 500 instituições financeiras do mundo, entre bancos, seguradoras, gestores de fundos, acredita que a transição não será tão amena, principalmente com a forte oposição do PT e dos movimentos sociais.
“Resolver a crise econômica exige galvanizar o apoio ao largo de todo o espectro político, o que é mais fácil de falar do que fazer”, analisa Aracena. Ele se mostra cético sobre a capacidade do PMDB em realizar uma reforma fiscal radical que possa restaurar a confiança para abrir espaço para a recuperação da economia e aliviar a relação desconfortável entre o PIB e a dívida bruta do país, que está em aceleração.
Mario Robles e David Wagner, do banco Nomura, avaliam que a perspectiva para mais ralis depende da habilidade do Brasil de devolver a estabilidade política que poderia reformar as fundações macroeconômicas no longo prazo.
“Vemos essa condição como necessária, mas não suficiente para resultar em uma melhora sustentada dos preços dos ativos. Os próximos dias e semanas devem nos dar essas respostas, mantendo em mente o baixo ponto inicial para a economia e o fato que a jornada, especialmente para o real, é improvável que seja reta com a natureza prolongada desse ajuste”, analisam.
(Com Weruska Goeking)
O FINANCISTA