Notícia Publicada em 01/04/2016 19:21
Indecisos devem protelar ao máximo a definição de seus votos sobre saída de Dilma
SÃO PAULO – Quatro dias após o senador Romero Jucá ter anunciado que o PMDB estava desembarcando oficialmente do governo da presidente Dilma Rousseff, o assunto continua no centro dos holofotes.
Desde então, ministros e parlamentares peemedebistas demonstraram descontentamento com a decisão da sigla, o que fomentou as desconfianças de que o partido comandado pelo vice-presidente Michel Temer estaria dividido e que um desembarque parcial poderia acontecer.
Especialistas consultados por O Financista avaliam que a saída do PMDB do governo poderia ter sido melhor organizada, o que teria impulsionado as chances de impeachment.
“O desembarque foi atabalhoado. O PMDB sempre foi dividido e a saída do governo não foi consensual”, explica Aldo Fornazieri, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp).
A suposta desorganização teria determinado o esfriamento temporário dos debates em torno do impedimento da petista. De acordo com Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria, “sem um abandono mais sólido da base aliada, o impeachment não deve se materializar”.
Ainda assim, há quem acredite que as chances de impeachment não diminuíram, mesmo com as incertezas apresentadas pela cena política nesta semana. O economista Bruno Rovai, do banco britânico Barclays, destacou que as dúvidas permanecem e que a saída do PMDB não altera a velocidade do impeachment, “nem para mais, nem para menos”.
“Mesmo que tenha sido uma saída adiantada, afobada, não vejo possibilidade de isso favorecer o governo. A saída do PMDB deixa Dilma cada vez mais isolada, o que aumenta as chances de impeachment da petista”, disse Rovai.
Ainda que se posicionem, os especialistas afirmam que os parlamentares indecisos podem ser a “cartada final” tanto do governo, quanto da oposição.
Segundo dados recolhidos nesta sexta-feira (1º) no Mapa do Impeachment, levantamento elaborado pelo movimento Vem pra Rua, 265 deputados federais pretendem votar a favor do impeachment de Dilma na Câmara, enquanto 119 se posicionam contra o impedimento da petista e 129 não sabem o que farão.
Em 13 de março, domingo marcado por manifestações contra a corrupção e a favor da saída da presidente do comando do Palácio do Planalto, 170 esperavam votar a favor de saída de Dilma, 129 indicavam que eram contrários à saída da petista, enquanto 214 demonstravam indecisão.
De acordo com a pesquisa, em menos de três semanas, 95 deputados federais decidiram que votariam pela saída da petista.
A expectativa, porém, é que os parlamentares que seguem indecisos esperem até a véspera da votação para definir seu voto. Desta maneira, eles poderão digerir todas as informações que vem sendo despejadas sobre o governo ao longo dos últimos dias.
“Por isso, os indecisos estão no centro das atenções. Enquanto o governo tenta reconstruir a base aliada oferecendo cargos, a oposição tem nas manifestações sociais o suporte necessário para angariar votos daqueles que estão em dúvida”, avalia Cortez, que destacou que Dilma e Temer disputam ombro a ombro os votos dos parlamentares indecisos. “Não podemos dizer que o assunto impeachment esfriou, mas que está no ponto morto, está”.
Ainda que Dilma saia do comando do Planalto, os especialistas afirmam que a crise política não estará solucionada com Temer no poder.
“Temer vem forçando a barra com o impeachment. Ele quer acelerar o processo. Porém, vem encontrando resistência ao desembarque dentro do próprio PMDB. Isso atribui a ele a imagem de líder político fraco e coloca em xeque a sua capacidade de governar”, critica Fornazieri. “Qualquer que seja o governo seguinte, será turbulento. Não haverá estabilidade política até 2018”, completou Rovai.
O FINANCISTA