Prefeito Xinaik Medeiros foi preso no dia 10 durante operação.
MPE apura fraudes em mais de 120 licitações de obras e serviços.

A atual prefeita de Iranduba Maria Madalena de Jesus Souza (PSDB), que assumiu o cargo após o prefeito Xinaik Medeiros ser preso por suspeitas de desvio de recursos e fraudes em licitações, afirmou que desde 2012 era impedida de exercer as atividades do mandato. Madalena revelou que depois de um mês da posse Xinaik teria trocado a fechadura do gabinete da vice-prefeitura. O advogado do então prefeito não foi localizado para comentar as declarações da nova prefeita.
Madalena de Jesus foi candidata à vice-prefeita e venceu as eleições de 2012 ao lado de Xinaik Medeiros, com 36,22% dos votos. A técnica de enfermagem e funcionária pública, de 55 anos, pretendia iniciar projetos na Zona Rural, mas os planos teriam esbarrados na “blindagem” da prefeitura após a posse.
Segundo Madalena de Jesus, o plano de governo previa uma atuação segmentada no município. Enquanto ela ficaria responsável pela administração do Distrito de Cacau Pirêra, Rodovia Manuel Urbano (AM-070) e área do Rio Negro, Xinaik teria atribuição de administrar área da Estrada Carlos Braga, a Zona Urbana e área do Solimões. Porém, o plano de governo não foi cumprido, de acordo com a ex-aliada de Xinaik.
Quando voltei no outro dia para trabalhar no gabinete de vice-prefeita já tinham trocado a fechadura”
prefeita Iranduba
“Como vice-prefeita não tive a oportunidade de trabalhar em parceria com o prefeito. Depois de um mês e 15 dias as coisas começaram a mudar. Não tive mais valor e fiquei na Secretaria de Saúde porque insisti”, comentou.
Madalena diz que chegou a se deparar com a substituição da fechadura do gabinete da vice-prefeita. A medida seria para impedir atuação da vice-prefeita no cargo, segundo ela.
“Voltei para a prefeitura. Arrumei meu gabinete, quando voltei no outro dia para trabalhar no gabinete de vice-prefeita já tinham trocado a fechadura. Fiquei sem espaço na prefeitura. Não tinha direito a nada. Passei até seis meses sem ter contato com Xinaik porque ele não queria falar comigo. Era vice-prefeita só no papel”, afirmou.
Madalena relatou que na época Xinaik teria alegado que ampliaria a prefeitura e construiria um novo gabinete. “Quando terminaram a obra, fizeram auditório, uma sala imensa para o prefeito e uma sala para o financeiro. Eu fiquei de lado novamente”, revelou a atual prefeita.
Exonerações
Xinaik Silva Medeiros foi preso pela Polícia Civil nesta terça-feira (10). Após a operação e o escândalo de corrupção envolvendo o antigo prefeito, Madalena de Jesus assumiu o cargo e exonerou de imediato os 13 secretários municipais de Iranduba. Os novos secretários municipais serão nomeados oficialmente até a próxima terça-feira (17).
“Exonerei para descobrir a lista de funcionários fantasmas. Não que os secretários fossem incompetentes, mas era preciso fazer essa mudança. Alguns secretários, poucos dos exonerados, serão reconduzidos aos cargos”, afirmou Madalena.
Funcionários contratados e 276 comissionados também foram demitidos pela nova gestão. Há suspeita que existam também nos quadro da prefeitura 500 funcionários “fantasmas”, que recebiam salários entre R$ 1 mil e R$ 7 mil sem trabalhar.
“No momento ainda não tenho uma estimativa total. Pedi que sejam enviadas as listas com nomes de todos os servidores e elas estão chegando aos poucos. Já encontramos pessoas que nunca realmente trabalharam para prefeitura, que só recebia salário, mas não trabalhava”, explicou a prefeita.
A nova gestão do executivo municipal solicitará do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Amazonas a realização de auditoria em toda a estrutura da administração de Iranduba.
“Vou entrar com um pedido no TCE para fazer auditoria em todas as secretarias. Não quero auditoria feita por órgão interno da prefeitura. Gosto das coisas claras e transparentes. Se houver falhas serão denunciadas. Não vou compactuar com corrupção. Já temos algumas denúncias em andamento para enviar ao Ministério Público, mas só irei divulgá-las depois que concluir tudo. Vou encaminhar tudo que encontrar de irregular. Farei uma limpeza da corrupção”, ressaltou Madalena de Jesus.
As contas do município também passarão por análise. Embora o levantamento ainda não tenha sido finalizado, a atual prefeita revelou que Iranduba já estava ultrapassando os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal.
A prefeita disse que esperava que o escândalo viesse à tona. Ela alega que apesar de ter conhecimento de irregularidades na Prefeitura de Iranduba, não tinha provas para denunciar aos órgãos de fiscalização.
“Eu e outras pessoas sabíamos que um dia isso ia acontecer. As pessoas diziam que eu sabia, mas se eu denunciasse, sem provas, depois responderia processo por danos morais, difamação e calúnia. Desconfianças eu tinha, mas não tinha provas. As pessoas chegavam para mim relatando irregularidades e eu as chamava para ir até o Ministério Público, mas elas não iam”, justificou Madalena de Jesus.
Prefeito foi preso na terça-feira
(Foto: Reprodução/Rede Amazônica)
Operação
O Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE-AM) deflagrou a operação “Cauxi” para apurar fraudes em licitações e um esquema de desvio de dinheiro em Iranduba. O desvio ultrapassa R$ 56 milhões em recursos municipais e estaduais. O prefeito Xinaik é suspeito de liderar o esquema e foi preso no dia 10.
Além do prefeito, foram presos Davi Queiroz, secretário de Finanças; Nádia Medeiros, tesoureira do Fundo municipal de Saúde, irmã do prefeito, além de Edu Corrêa, presidente da Comissão Geral de Licitação (CGL).
Na residência do prefeito, as equipes apreenderam mais de R$ 20 mil reais, além de joias e um carro que estaria no nome de uma das empresas envolvidas no esquema criminoso de fraudes em licitações.
De acordo com Lauro Tavares, promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a investigação aponta irregularidades em, ao menos, 127 licitações de obras que seriam executadas na cidade. Dezessete, que teriam sido pagas, não foram executadas. Os casos envolvem, além de obras, irregularidades nos serviços de transporte escolar, coleta de lixo da cidade, entre outros. Empresas que oficialmente tinham como proprietários caseiro e flanelinha venceram licitações. Os dois homens seriam “laranjas”.
Operação teve início na terça-feira (10) (Foto: MPE/Divulgação)
G1.COM.BR
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