Renato Maurício Prado comenta Bayer München 3 – 2 Barcelona com ar de nostalgia

 

O magnífico jogo entre Bayer de Munique e Barcelona, pela Liga dos Campeões (vitória alemã por 3 a 2 e classificação catalã, graças ao triunfo por 3 a 0, na primeira partida), me deixou nostálgico: há quanto tempo não vemos por aqui um espetáculo com tantos craques em campo? Tive a ventura de assistir a muitos destes shows inesquecíveis. Mas hoje em dia… Só mesmo pela TV.
Já era nascido, mas não cheguei a presenciar os memoráveis confrontos entre o Santos de Pelé e o Botafogo de Mané Garrincha, duas máquinas de jogar bola que, não tenho dúvidas, superavam esse Barça x Bayern no número de jogadores extraordinários em campo.

Duvida? Vamos lá, de um lado, Pelé, Coutinho, Zito, Gilmar, Pepe, Mengálvio etc, do outro Mané, Didi, Nilton Santos, Amarildo, Manga, Zagallo e por aí vai. Alguns gênios da bola. Como apenas Messi é hoje em dia (e Neymar talvez seja no futuro).

Como disse, não tive a ventura de acompanhar esses duelos extraordinários porque era muito pequeno. Mas o primeiro choque de estrelas a que assisti, até hoje permanece na minha memória. Era o ano de 1966 e, diante da TV, meu pai e eu ficamos boquiabertos ao ver o ainda poderoso Santos de Pelé ser espancado no Mineirão por uma equipe infernal de garotos como Tostão, Dirceu Lopes, Zé Carlos, Natal, Piazza, Raul etc. Foi 6 a 2 lá e 3 a 2 (de virada), no Pacaembu. Detalhe: Pelé estava em grande forma e se não tinha mais Coutinho ao lado, fazia par com outro grande artilheiro: Toninho. E ainda havia Edu, infernal, na ponta-esquerda.

Dois esquadrões dos melhores em todos os tempos, que cruzariam os bigodes, nos anos seguintes com mais um timaço, cheio de craques: o Botafogo de Gérson, Jairzinho, Roberto e Paulo César Caju (além de Leônidas, um monstro na zaga).

Bons tempos, que prosseguiram com a Máquina Tricolor, de Francisco Horta (Rivelino, Paulo César Caju, Doval, Pintinho, Edinho etc) duelando com o Internacional de Carpegianni, Falcão e Figueroa; o Flamengo de Zico, Júnior, Leandro, Adílio, Tita, Andrade e cia, enfrentando o fantástico Atlético Mineiro de Reinaldo, Cerezo, Éder, Palhinha etc e o São Paulo (bicampeão do mundo) dirigido por Telê Santana, encarando o Palmeiras da era Parmalat, com Rivaldo, Edmundo, Djalminha e Evair.

Me arrisco a dizer que a partir daí a coisa foi piorando mas até o ano 2000 ainda tivemos alguns duelos, cheios de craques, por aqui. O Vasco, campeão da Copa Mercosul (sobre o Palmeiras) e Brasileiro (sobre o São Caetano) era também galáctico: Romário, Juninho Pernambucano, Juninho Paulista, Euller, Jorginho, Helton, Pedrinho, Felipe etc.

Daí pra frente, confesso, já não me recordo de times fora de série. No máximo, bons. Na seleção campeã do mundo, em 2002, praticamente todos já jogavam no exterior. Mas, pelo menos, eram protagonistas. Agora, nem isso. E fica cada vez maior o contraste entre o que vemos lá fora (principalmente na Premier League, da Inglaterra, e na Liga dos Campeões) e por aqui.

Será que um dia voltaremos a ter craques de verdade atuando nos gramados brasileiro? O último (e solitário) foi Neymar. O resto, quando muito, pode ser considerado bom jogador.

 

Renato Maurício Prado – O GLOBO – 15/05/2015

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