Vencedora do Emmy, Joia Rara sofreu com indiferença do público

Carmo Dalla Vecchia (Manfred) e Mel Maia (Pérola) em cena da novela Joia Rara, da Globo
Por RAPHAEL SCIRE, em 25/11/2014 · Atualizado às 10h29

Existe uma semelhança entre a vencedora do Emmy de 2013 na categoria melhor novela, Lado a Lado, e Joia Rara, produção que levou a estatueta ontem (24), na 42ª edição do prêmio, um dos mais importantes no mercado televisivo mundial. Além de os dois folhetins terem sido exibidos às 18h na mesma emissora, a Globo, tanto Lado a Lado quanto Joia Rara sofreram com a indiferença do público e os relativamente baixos índices de audiência, na casa dos 18 pontos na Grande São Paulo.

As duas novelas enfrentaram, ainda, o horário de verão, período em que os televisores, habitualmente, tornam-se segunda opção de lazer, principalmente na faixa em que foram exibidas. Nada disso, porém, comprometeu o trabalho final e as impediu da conquista do Emmy.

De Thelma Guedes e Duca Rachid, Joia Rara certamente não foi a melhor novela da dupla, posto este ocupado por Cordel Encantado (2011), que levou a fábula dos contos de fadas para o folhetim televisivo, misturando, ainda, com elementos nordestinos. Nem de longe, Joia Rara teve o frescor de novidade de Cordel, mas teve, sim, um acabamento estético maior e melhor, fruto do amadurecimento da direção de Amora Mautner, responsável pelos dois produtos. É preciso registrar que a fotografia soturna às seis da tarde causou estranhamento no início, mas tal problema foi suavizado ao longo da novela.

A própria Duca Rachid afirmou, na entrega do Emmy, que talvez Joia Rara tenha sido o trabalho mais difícil que realizou. Nem tanto pela reconstrução da época, mas mais pela pressão diária à qual a novela foi submetida. Joia Rara sofreu, também, de dois males: um didatismo exagerado na explicação da filosofia budista, na tentativa de se comunicar com todos os públicos, e uma barriga enorme no quarto final da trama, quando o vilão Manfred (Carmo Dalla Vecchia) parecia fazer um jogo de gato e rato com o mocinho Franz (Bruno Gagliasso), e a história não seguia adiante.

Obviamente, Joia Rara teve pontos positivos, principalmente por conta de sua ambientação nos anos 1940, o que permitiu às autoras explorarem um rico período histórico e cultural do Brasil, como a eclosão dos movimentos sindicais e o início do teatro de revista _tudo, claro, inserido em um contexto diretamente ligado à trajetória dos personagens.

O núcleo do cabaré foi um dos atrativos da história e atrizes “coadjuvantes” tiveram status de protagonistas, como foi o caso de Mariana Ximenes (Aurora) e Letícia Spiller (Lola). Aqui, mais uma vez, o rigor da produção falou mais alto: cenários luxuosos e figurinos que despertaram a cobiça das telespectadoras, fato raro para uma trama de época.

O Emmy é a consagração da novela depois das turbulências de quando foi apresentada e também da Globo como produtora de ficção televisiva no Brasil. É importante salientar, porém, que os concorrentes ao prêmio são inscritos pelas próprias emissoras e a Globo é uma das patrocinadoras do evento. De um modo geral, o Emmy vale mais para a produção impecável de Joia Rara do que pela história em si.

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