Quando Kelechi Iheanacho começou a correr rumo à bandeira de escanteio, toda a seleção nigeriana partiu em disparada atrás dele. Então, ele levantou os braços alternadamente, apontando os dedos para o céu. O gesto era para conduzir a torcida, uma multidão de nigerianos, que alegremente começaram a imitar os seus movimentos. Todo um setor do Estádio Khalifa Bin Zayed em Al Ain começou a fazer a estranha dança, em êxtase pelo primeiro gol das Super Águias na Copa do Mundo Sub-17 da FIFA EAU 2013.
Para matar a curiosidade de todos, o FIFA.com perguntou a Iheanacho se aquilo seria uma dança tradicional do estado de Imo, ao sul da Nigéria, onde nasceu o jogador. “Não, não, não”, respondeu o nigeriano entre risos, remexendo-se no piso de mármore da entrada principal do estádio. “É a comemoração do meu lutador profissional favorito.” O jovem africano estava se referindo a Daniel Bryan, um americano barbudo do subúrbio de Seattle, que também atende pelo apelido de Dragão Americano. “Eu vejo ele na TV e adoro o jeito como ele levanta a galera dessa forma, então decidi copiá-lo. Os torcedores também pareceram gostar”, acrescentou ele com um largo sorriso no rosto.
Não é difícil esquecer que esses jovens jogadores presentes nos EAU 2013 são apenas garotos, especialmente quando se trata de alguém tão talentoso quanto Iheanacho, que marcou quatro gols na goleada por 6 a 1 contra o México, o atual campeão do torneio. Mas é justamente aí que reside a beleza do Mundial Sub-17: os jogadores ainda não são totalmente profissionais, ainda não estão enfastiados ou pensando apenas no próximo contrato. E assim acabam improvisando e se divertindo mais, a ponto de inventarem as comemorações mais estranhas e malucas.
“Fiquei totalmente louco de alegria quando o primeiro gol entrou”, comentou o atacante. Sobre isso não havia dúvidas! Iheanacho voltou a fazer a mesma dança inspirada em seu lutador predileto após cada um dos seus gols e, ao término do jogo, repetiu os movimentos quando os jogadores pegaram bandeiras verde e brancas das arquibancadas e festejaram como se tivessem acabado de conquistar o título.
A trilha sonora que acompanha o lutador preferido de Iheanacho, The Final Countdown (A Contagem Regressiva Final, em português) também é bastante adequada para a ocasião, considerando que aNigéria agora ganhou status de favorita para disputar a final em Abu Dhabi no dia 8 de novembro. E Iheanacho, com o seu estilo eletrizante, assumiu a artilharia isolada nos Emirados Árabes Unidos.
“Já marquei quatro gols em uma mesma partida várias vezes, mas apenas jogando na rua com os meus amigos”, afirmou. “Nunca em um confronto internacional, nunca pelo meu país. A sensação é incrível.”
Confiança no treinador
Antes do jogo, o técnico nigeriano Manu Garba falou ao FIFA.com sobre o seu forte setor ofensivo e avisou que a sua equipe jogaria no melhor estilo do Futebol Total. Ele só esqueceu de mencionar que tinha uma verdadeira joia no elenco, um jogador veloz e enérgico, capaz de ler o jogo com uma maturidade e uma paciência fora do comum para um adolescente. “O técnico nos dá liberdade para sermos nós mesmos, e é por isso que estamos tão confortáveis em campo”, explicou Iheanacho, enquanto os mexicanos subiam para o ônibus em meio a um clima de tristeza.
O respeito do jogador pelo seu treinador ficou evidente aos 37 minutos do segundo tempo, quando ele foi substituído e aplaudido de pé. Iheanacho correu até Garba e fez uma demorada reverência antes de apertar a sua mão. “Ele é o técnico e se formos espertos vamos ouvir o que ele tem para dizer, porque ele sabe o que está falando”, afirmou.
Suécia e Iraque são as próximas equipes do Grupo F que terão a difícil missão de enfrentar as Super Águias. Com o maestro Iheanacho comandando a orquestra nigeriana dentro de campo e nas arquibancadas, além do entrosamento quase telepático entre ele e o companheiro de ataque Success Isaac, a Nigéria certamente tem tudo para chegar longe no torneio.
“Claro, foi uma grande vitória no nosso primeiro jogo, mas agora precisamos ter coragem e determinação para seguir em frente até o fim”, concluiu Iheanacho, desta vez com seriedade na voz, antes de cumprimentar os torcedores pela última vez.