
Por que a Globo, mesmo perdendo audiência, segue com a maior fatia dos investimentos publicitários?
Não é só audiência que conta para o mercado, é também a qualificação do público. A Globo tem a maior concentração de público consumidor. Além da excelência da programação, tem uma concorrência medíocre. A Record fez aquele pastiche da Globo, que nadou, nadou e bateu a cabeça no teto. O SBT segue com aquele ritmo conservador.
Você quase foi para o SBT?
Cheguei a assinar um contrato com o SBT, mas tinha uma cláusula em que o Silvio Santos não poderia apitar na programação. No mesmo dia, de madrugada, o Silvio me ligou e disse que não podia aceitar a cláusula. Desfizemos o acordo. Ele não deve ter dormido, pensando em deixar de mandar no SBT, e eu não estava dormindo, pensando em como ia mandar na TV do Silvio Santos [risos].
Pensou em ir para a Record?
Cheguei a conversar sobre a possibilidade de fazer produções terceirizadas para eles, mas não deu certo.
Você conhece Roberto Marinho Neto, que assumiu a direção de projetos esportivos na Globo?
É um ótimo garoto, inteligente, vai subir rápido lá. Acho bom essa juventude chegando. Eu e o Walter Clark tínhamos 29 anos [a idade de Marinho Neto] quando assumimos a Globo.
Dará tempo de o país se digitalizar até o apagão do sinal de TV analógico, em 2016?
Não há dinheiro nas TVs para digitalizar 8.000 repetidoras. Vão ter de adiar.
Acredita que a TV paga no Brasil seguirá crescendo nesse ritmo acelerado?
Claro. Ela está começando a ter a sua própria produção de qualidade. Gostei do “Sessão de Terapia”, do GNT.
Acha que o Rupert Murdoch (dono da Fox) será sócio de um canal aberto no Brasil?
Pode ser. Tem de ver como ficará a situação da RedeTV!, que não paga direito os funcionários, e como vai ficar a MTV, que a Abril quer vender [procurado, o grupo Abril sustenta que não há negociação em andamento].
E o Silvio Santos, vai vender o SBT?
Não. O Silvio adora aquilo lá, e as filhas dele estão se interessando. Anos atrás, eu quis comprar o SBT, com um grupo de investidores. Ele não quis vender.
Você ainda quer ter um canal de notícias?
Quero, mas não consigo. Cheguei a conversar com o Fernando Di Genio [dono do Grupo Objetivo e de canais como a MixTV] sobre isso. Depois conversei com a própria Abril, para transformar a MTV em canal de notícias, mas nada avançou.
O que você gosta de ver na TV?
Eu não vejo muita TV, porque minha mulher não deixa [risos]. Se eu quiser ver, tenho de me trancar no quarto, porque fico resmungando enquanto assisto: “Olha essa luz! Que texto é esse?”.
A repetição de elencos na Globo incomoda você?
Esse uso de elenco sem critério, emendando uma novela na outra, participando de todos os programas, começou na gestão da Marluce [Dias, que foi diretora-geral da Globo]. Parece teatro com a coxia aberta. Com a super exposição, o mito desaparece. Perde o encanto, perde audiência.
Você palpita nos programas do seu filho Boninho?
Um pouco. Outro dia estava vendo o Rock in Rio na TV, transmissão com direção dele, e comecei a ficar incomodado com a falta de crédito na tela e outras coisas. Liguei para o celular do Boninho, mas ele não pôde atender. No outro dia, me pediu desculpas por não poder falar comigo, disse que estava na correria, “trabalhando”. Eu disse que tudo bem, mas que “trabalhando” ele não estava não. Se estivesse, não teria esse, aquele e aquele outro problema na transmissão… [risos]
Escrito por jamesakel@uol.com.br às 08h28no dia 09 de outubro de 2012
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