A bomba não detonou

As revistas dominicais “Fantástico”, da Globo, e “Domingo Espetacular”, da Record, andam se especializando em prometer reportagens bombásticas que acabam decepcionando o público, que esperava revelações surpreendentes.
A entrevista de Rosane Collor, na semana passada, no “Fantástico”, não mostrou nenhum fato novo importante sobre os anos de Fernando Collor na presidência nem sobre sua queda. Da mesma forma, a Record prometeu denúncias contra Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, que não causaram o impacto que os telespectadores esperavam.

Uma vez que a Record vem perdendo o segundo lugar de audiência para o SBT, e considerando ainda as matérias contra a revista “Veja”, reportagens sobre o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e o pastor Valdemiro Santiago, recheadas de fatos polêmicos, acusações graves, documentos e depoimentos comprometedores, o público se preparou para ver elucidadas e discriminadas suspeitas contra, possivelmente, a medição de audiência na TV aberta, favorecendo a emissora de Silvio Santos ou, quem sabe, a maior rival e inimiga, a Rede Globo.

Mas não foi isso que aconteceu.

A matéria tratou de negócio paralelo de Montenegro, acionista de uma empresa operadora da taxa de gravame, paga por quem compra carro financiado. A empresa opera sem ter havido licitação e o empresário possui dinheiro em paraíso fiscal, segundo a Record. Também foram relembrados fatos controversos de quando o presidente do Ibope foi diretor de futebol e presidente do Botafogo, quando fez críticas pesadas à bandeirinha Ana Paula Oliveira, somente para dar uma apimentada, pois nada acrescentavam.

Porém nada do que foi mostrado pareceu realmente grave. Pelo menos do meu ponto de vista, faltou muito para a acusação ser compreensível. Nada de realmente ilegal, imoral ou que engorda, como cantaria Roberto Carlos, foi mostrado de forma clara. O que foi exibido foi apenas um empresário que tem dinheiro no exterior e que é acionista de uma empresa, como outros milhares que existem no Brasil.

Nada relacionado ao fato de ser presidente do instituto de pesquisas gerou nenhuma suspeita concreta aos seus negócios, porque faltou justamente o que a Record teve de sobra nas denúncias anteriores – estas sim bombásticas: provas.

E nada relacionado ao Ibope, como se imaginava, foi denunciado. Indiretamente, talvez, o alvo possa ter sido o Ibope, já que a reportagem foi direcionada ao seu presidente, podem dizer. É uma interpretação, mas não creio que possa ser um motivo. Jornalismo é coisa séria e não de picuinhas.

Quem realmente está bravo com o Ibope é José Luiz Datena. O apresentador do “Brasil Urgente” da Band está tão indignado com os baixos índices que vem conquistando que chegou a promover uma esdrúxula pesquisa no ar: “você está assistindo ao meu programa?” E as respostas: “Sim” e “Claro”. Precaução inteligente. Só de brincadeira, poderiam as pessoas votarem no “Não” e acabar com a graça do Datena.

Por enquanto ficamos assim: o único que falou mal do Ibope e foi processado por isso continua sendo o Silvio Santos. Mas tudo acabou bem, depois de um acordo judicial.

Hamilton Kenji é titular dos blogs obaudosilvio.blogspot.com, letrasdotrem.blogspot.com e transcendentes.blogspot.com

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